Peixe que pisca os olhos pode explicar a vida no solo

Daniel J. Field

Dois exemplares de Boleophthalmus caeruleomaculatus na Mai Po Nature Reserve, Hong Kong

Há cerca de 400 milhões de anos, os nossos antepassados deixaram a água e passaram a viver em terra, mas muito está ainda por explicar sobre como esta transição aconteceu. A resposta pode estar, segundo um estudo publicado em abril, num peculiar animal – o único peixe que caminha fora de água e que pisca os olhos.

Como é que desenvolvemos a habilidade de viver em terra? Um estudo publicado em abril sobre um peixe que vive fora de água pode explicar o acontecimento.

O Periophthalmus, mais conhecido por mudskipper ou saltador-de-lodo, é um anfíbio que desenvolveu a habilidade de piscar os olhos independentemente dos nossos antepassados, um fenómeno conhecido como evolução convergente.

“O mudskipper dá-nos a oportunidade de testar como e porque é que esse comportamento pode ter evoluído num peixe que sai da água com regularidade para passar o seu tempo em terra”, afirma, à EurekAlert, o co-autor do estudo, Thomas Stewart, que reforça que o ato de pestanejar é fundamental por diversas razões.

“Os animais piscam os olhos por várias razões. Ajuda-nos a manter os nossos olhos húmidos e limpos, a protegê-los de lesões e até a comunicar”, sublinha.

Stewart recorda que estudar o aparecimento deste comportamento tem sido um desafio constante da Ciência, uma vez que as mudanças anatómicas que permitem piscar os olhos acontecem em tecidos moles, que por sua vez não são bem fossilizados.

Stewart afirma que a transição para a vida no solo envolveu muitas mudanças no corpo dos animais, incluindo como eles se movem, respiram e se alimentam. “Ter a oportunidade de estudar como e porque é que este comportamento começou dá-nos uma grande oportunidade de aprender mais sobre a maneira como os humanos evoluíram”, conclui.

Para estudar o mudskipper, que pode ser encontrado na regiões costeiras tropicais e subtropicais do Indo-Pacífico e na costa ocidental de África, os investigadores colocaram câmaras de alta velocidade num tanque com os animais para analisar o seu movimento na água e em terra, registando as localizações nas quais o anfíbio piscava os olhos.

De acordo com o LiveScience, quando debaixo de água, os mudskippers raramente piscaram e, quando em terra, piscaram constantemente. Pestanejaram ainda mais frequentemente quando os investigadores aumentaram a evaporação do tanque, o que significa que, quando estão com os olhos mais secos, tal como os humanos, os mudskippers piscam mais.

“O mais impressionante é que eles conseguem piscar para humedecer os olhos, apesar de não terem quaisquer glândulas lacrimais. Ao passo que as nossas lágrimas são produzidas por glândulas que rodeiam os nossos olhos, os mudskippers aparentam misturar o muco da sua pele com água do seu ambiente para produzir as lágrimas”, afirma Brett Aiello, professor assistente de biologia na Universidade de Seton Hill, na Pensilvânia.

Pestanejar é, explica Aiello, um comportamento fascinante e complexo, uma vez que pode desempenhar várias funções, todas elas fundamentais para a saúde e segurança dos olhos.

Ao comparar a anatomia dos mudskippers com parentes próximos do anfíbio que não pestanejam, os investigadores concluíram que os olhos do animal desenvolveram-se de modo a repousarem na cavidade ocular coberta de uma membrana elástica para onde os olhos são sugados de modo a iniciar o processo de pestanejar, um processo que tem a duração praticamente igual à dos humanos.

Tomás Guimarães, ZAP //

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