Tijolos da Mesopotâmia com 3 mil anos revelam anomalia do campo magnético da Terra

Matthew D. Howland et al

Detalhe de um dos tijolos analisados

Uma equipa de investigadores descobriu que tijolos antigos da Mesopotâmia, com inscrições cuneiformes com os nomes dos reis de um dos berços da civilização, têm assinaturas magnéticas que oferecem novos dados sobre a história geomagnética da Terra.

O estudo, apresentado num artigo publicado esta segunda feira na PNAS, poderá revolucionar a datação de achados arqueológicos na Mesopotâmia, região que é atualmente o Iraque.

Tradicionalmente, os arqueólogos têm dependido da datação por radiocarbono para estabelecer cronologias na antiga Mesopotâmia.

No entanto, explica Mark Altaweel, professor do Instituto de Arqueologia da Universidade de Londres e co-autor do estudo, este método é limitado, pois muitos artefactos, como tijolos e cerâmicas, não contêm material orgânico.

Esta nova pesquisa fornece assim uma ferramenta alternativa de datação através de arqueomagnetismo.

A equipa de investigadores, composta por cientistas do Reino Unido, Estados Unidos e Israel, analisou 32 tijolos da Mesopotâmia, cada um dos quais apresentava escritos cuneiformes com o nome do rei que reinava no momento da sua criação. Estes tijolos abrangiam os reinados de 12 reis diferentes.

O campo magnético da Terra imprime uma assinatura única em materiais magnéticos como o óxido de ferro encontrado nestes tijolos. Os investigadores utilizaram um magnetómetro para detetar variações nestas assinaturas magnéticas ao longo do tempo.

Ao correlacionar os dados magnéticos destes tijolos com os registos arqueológicos conhecidos dos reis, a equipa construiu um mapa magnético histórico da antiga Mesopotâmia. Este mapa é uma ferramenta significativa para datar outros artefactos, que não têm a vantagem de serem rotulados com o nome de um rei.

“Comparar artefactos com as condições históricas do campo magnético permite estimar as suas datas, especialmente os que foram submetidos a altas temperaturas”, explica Matthew Howland, professor da Universidade Estadual de Wichita, nos EUA, e autor principal do estudo, citado pela Cosmos Magazine.

A pesquisa confirmou também a ocorrência da “Anomalia Magnética Levantina“, um período de alta intensidade magnética que ocorreu entre 1050-550 a.C.

Cinco dos tijolos revelaram uma rápida mudança magnética durante o reinado do Rei Nabucodonosor II (604-562 a.C.), fornecendo dados valiosos sobre flutuações geomagnéticas da Terra durante este período.

“O campo geomagnético é um dos fenómenos mais enigmáticos na área das Ciências da Terra”, diz Lisa Tauxe, investigadora do Instituto de Oceanografia Scripps e co-autora do estudo.

“A singularidade destes restos mesopotâmicos bem datados oferece uma oportunidade rara de estudar mudanças na força do campo magnético da Terra com alta resolução temporal, rastreando mudanças que ocorreram ao longo de décadas — ou mesmo períodos mais curtos“, conclui Tauxe.

Armando Batista, ZAP //

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