Orangotangos ou humanos, afinal quem usou primeiro ferramentas de pedra?

Para surpresa dos cientistas, orangotangos sem qualquer treino prévio conseguiram aparentemente usar um martelo de pedra, com o qual tentaram cortar objetos.

Orangotangos em cativeiro conseguem usar ferramentas de pedra sem qualquer treino prévio ou instruções de humanos, conclui um novo estudo, realizado por uma equipa de investigadores da Universidade de Tübingen, na Alemanha, e publicado este mês na PLOS .

Segundo a New Scientist, os resultados do estudo sugerem que mesmo os orangotangos, que no seu habitat natural vivem nas árvores e raramente se cruzam com pedras, conseguem usar ferramentas de pedra.

Além de ser uma demonstração de inteligência destes primatas, a descoberta tem implicações sobre a nossa compreensão de quando e como os humanos ancestrais conseguiram dominar o uso de ferramentas de pedra.

Mas a capacidade de manipulação destes primatas tem um limite. Apesar de conseguirem usar ferramentas de pedra sem qualquer contacto prévio com as mesmas, os orangotangos não se mostraram capazes de construir este tipo de ferramentas.

“Não encontrámos evidências de que os orangotangos consigam combinar esses dois comportamentos, diz a bióloga e etóloga Alba Motes-Rodrigo, que liderou a equipa de investigadores.

Motes-Rodrigo e os colegas estudaram dois orangotangos no Parque Zoológico de Kristiansand, na Noruega, aos quais foi dada uma caixa com uma peça de fruta, selada com uma corda.

Foi também colocada à disposição dos dois animais um martelo e pedaços de rocha de diferentes tamanhos.

Em teoria, os orangotangos poderiam ter usado o martelo para bater nos pedaços de pedra, obtendo fragmentos mais ou menos afiados — que pudessem então usar como ferramentas para cortar a corda. Não chegaram a esse ponto, mas aparentemente deram algum uso ao martelo.

“Encontrámos sinais de percussão nas pedras, o que é interessante, porque os orangotangos raramente interagem com elas”, diz Motes-Rodrigo. “Talvez estivessem simplesmente a brincar com elas.

Numa segunda parte da experiência, os investigadores deram aos orangotangos um fragmento de sílex aparado, com arestas afiadas, montado numa espécie de machado.

“Um dos orangotangos, depois de ter tentado abrir a caixa de diferentes formas, acabou por usar o machado de sílex que fiz, e conseguiu cortar a corda da caixa — obtendo como recompensa a sua peça de fruta”, conta a autora principal do estudo.

“Espontaneamente, sem qualquer treino, ele conseguiu reconhecer a pedra afiada como uma ferramenta, e usá-la”, acrescenta Motes-Rodrigo.

Numa terceira parte da experiência, a equipa deu aos orangotangos pedras afiadas e recompensou-os com uvas sempre que os animais devolviam as pedras — uma forma de encorajar os animais a associar as ferramentas a recompensas.

Após esta experiência, o orangotango que tinha cortado a corda com o machado de sílex pegou num pedaço de rocha e começou a bater com ela no chão — libertando fragmentos que em alguns casos tinham pontas afiadas.

Este comportamento poderia dar a ideia de que o animal tinha criado ferramentas para cortar a corda da caixa. No entanto, diz Motes-Rodrigo, “depois ele não fez nada com os fragmentos afiados, o que sugere que não tinha percebido o que tinha acabado de criar”.

Numa experiência final, Motes-Rodrigo mostrou a três outros orangotangos como fazer ferramentas de pedra, mas apesar de sucessivas demonstrações dos “ofícios do paleolítico”, nenhum deles usou as ferramentas para cortar a corda.

“Claramente, apenas a observação não é suficiente”, diz a autora principal do estudo. “Falta aqui mais qualquer coisa“.

Provavelmente, o que nos destinge de todos os outros animais.

ZAP //

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