O lugar mais frio do universo ainda é um enigma para os astrónomos

ESA / NASA

Nebulosa Boomerang, o lugar mais frio do universo?

Nebulosa Boomerang, o lugar mais frio do universo?

O espaço é um lugar muito frio. A temperatura certa no vácuo e longe de qualquer astro é de cerca de -270ºC.

Essa temperatura seria suficiente para congelar o hidrogénio na Terra – mas ainda está alguns poucos graus acima do que é considerado o “zero absoluto” – o ponto mais frio possível.

O motivo pelo qual a temperatura ainda se mantém acima deste ponto de zero absoluto é a constante presença de algo chamado radiação cósmica de fundo em micro-ondas, uma energia originada no “Big Bang” e que preenche todo o cosmo.

Por isso, em quase todo o universo, -270 é a temperatura mais baixa possível.

Mas não em todo o lado.

A Nebulosa Bumerangue fica a 5 mil anos-luz da constelação de Centaurus. Lá, uma nuvem de gás está a ser expelida por uma estrela que está a morrer.

Esta nuvem é um dos objetos mais misteriosos do universo. Os astrónomos acreditam que a temperatura cai para algo apenas meio grau acima do zero absoluto. Até onde se sabe, este é o ponto mais frio do universo.

Precisamente por isso, muitos astrónomos debruçam-se sobre o tema. Alguns acreditam que ele pode ajudar a explicar várias dúvidas – como sobre a formação de galáxias e explosões cósmicas.

Morte das estrelas, nascimento da vida

A morte de estrelas é um fenómeno comum no universo. Daqui a alguns anos (leia-se milhões), o nosso Sol também vai esgotar o seu combustível nuclear, arrefecer e expandir – ao ponto de absorver Mercúrio, Vénus e talvez até mesmo a Terra.

Depois de uma série de processos, o Sol vai tornar-se uma anã-branca, diminuindo até atingir aproximadamente o tamanho do nosso planeta.

A morte das estrelas tem um papel fundamental no aparecimento da vida. Os astrónomos já sabem há bastante tempo que elementos como carbono, oxigénio e ferro fundem-se dentro do núcleo das estrelas. Quando estas morrem, esses elementos são distribuídos pela galáxia.

Essa distribuição de elementos – sobretudo depois da morte de estrelas muito maiores do que o Sol – é que ajuda a formar rochas, planetas e até mesmo a vida.

Nebulosa especial

O processo acontece em vários lugares do universo, mas a Nebulosa Bumerangue é especial. Os investigadores estão a conseguir observá-la numa fase anterior à de se tornar uma “nebulosa planetária” – que é um dos estágios da morte das estrelas.

Os astrónomos Raghvendra Sahai, da NASA, e Lars-Ake Nyman, do telescópio ALMA, no Chile, descobriram que o gás que é libertado pela nebulosa flui a uma velocidade de 164 quilómetros por segundo – dez vezes maior do que o normal observado até hoje – e 4 mil vezes mais rápida que um TGV.

Essa velocidade de libertação de energia explica porque a Nebulosa Bumerangue é tão fria.

A velocidade de libertação é tão alta que torna-se difícil até mesmo para a radiação de fundo de micro-ondas conseguir aquecer um pouco o ambiente. Com a exceção de algumas condições criadas em laboratórios na Terra, não existe nenhum outro lugar mais frio em todo o universo.

Sahai já tinha desenvolvido teorias sobre essa possibilidade antes mesmo da descoberta empírica. Ao analisar os dados da Bumerangue, o investigador descobriu que as suas previsões feitas há 20 anos estavam a materializar-se.

“Fiquei todo arrepiado. Foi um dos momentos mais emocionantes da minha carreira”, conta.

No entanto, ainda que tenham conseguido observar o fenómeno, os astrónomos ainda não sabem explicá-lo.

O que ninguém consegue compreender é o porquê da velocidade extrema de 164 quilómetros por segundo, já que a estrela dentro da Bumerangue não é brilhante o suficiente para produzir esta quantidade de energia. Este e muitos outros mistérios persistem.

Sahai e seus colegas vão realizar novas observações ainda este ano. Em algumas regiões, o gás expelido flui a 35 quilómetros por segundo. Os astrónomos querem mapear ao pormenor porque o gás flui a velocidades diferentes em pontos distintos.

“Estes objetos não são apenas bonitos. Eles estão cheios de segredos“, diz Soker.

ZAP / BBC

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