“Podia iluminar um estádio de futebol” — se resultasse. O projeto que a NASA cobiçava, mas só os russos testaram, tinha uma ambição extravagante.
No dia 4 de fevereiro de 1993, agência espacial russa Roscosmos tinha uma missão bizarra: enviar um espelho para o Espaço.
O projeto Znamya (“estandarte”, em português), tinha como objetivo “iluminar as cidades árticas da Sibéria durante os meses escuros de inverno“. Assim explicou a apresentadora do programa da BBC Tomorrow’s World, Kate Bellingham, que acompanhou o lançamento em direto, conta o próprio canal britânico, décadas depois.
No fundo, o objetivo era “puxar” o Sol para as regiões nórdicas da Rússia, que passavam grande parte do dia sem ele.
Já em 1923, o pioneiro alemão dos foguetões, Hermann Oberth, tinha proposto esta ideia no seu livro The Rocket into Planetary Space. Sugeria a criação de uma grelha de colossais espelhos côncavos ajustáveis que poderiam ser utilizados para refletir a luz solar num ponto concentrado da Terra.
Mais tarde, nos anos 70, os norte-americanos também acharam a ideia curiosa, em especial um engenheiro de foguetões, Krafft Ehricke, que acabou por falecer nos anos 80 sem concluir a sua ideia de pôr em prática estes espelhos.
Nessa altura, a NASA mostrou interesse no projeto, mas os tempos eram outros — não conseguiu obter financiamento suficiente, e quem pegou no projeto foi a nação recém saída da antiga URSS.
Por esse momento, um cientista russo chamado Vladimir Syromiatnikov, considerado um pioneiro da engenharia aeroespacial, estava a investigar se grandes velas solares refletoras poderiam ser acopladas a uma nave espacial: se estivessem ligadas a uma nave espacial, poderiam utilizar o Sol de forma semelhante à forma como as velas dos navios utilizam o vento.
Decidiu experimentar. Mas como, na altura, o budget da antiga URSS também não era largo, decidiu adaptar a ideia.
As velas solares refletoras de uma nave espacial em órbita poderiam, talvez, funcionar como um espelho. Utilizar-se-iam os propulsores da nave para inclinar as velas e mantê-las em sincronia com a posição do Sol.
A ambição final era ter uma estrutura de até 36 destes espelhos gigantes no espaço com capacidade de rotação que lhes permitiria manter a luz refletida no mesmo local.
“Numa noite clara, o refletor espacial poderia iluminar uma área do tamanho de um estádio de futebol, trazendo algum alívio de luz às longas noites de inverno”, explicou a apresentadora que, em 1993, noticiava o tão esperado lançamento do Znamya, sob a forma da nave espacial Progress M-15.
E a experiência deu resultado: a luz refletida tinha uma luminosidade aproximadamente equivalente à de uma lua cheia e criou um foco de luz com cerca de 5 km de largura na Terra.
.”Somos pioneiros nesta área”, orgulhou-se Syromiatnikov ao The Moscow Times em em 1998. “Se a experiência correr de acordo com o planeado, propomos enviar dezenas de outras naves para o espaço no futuro, numa base permanente”.
No dia 5 de fevereiro de 1999, a equipa preparou-se então para lançar um novo espelho, ainda maior, para o Espaço.
No entanto, essa missão, ao contrário da sua antecessora, acabou por ser um grande insucesso: as folhas da refletoras acabaram por se enrolar à volta da antena que se estendia para enviar o espelho. O Controlo da Missão acabou por deixar o espelho cair na Terra. Ardeu na atmosfera, sobre o Oceano Pacífico, no dia seguinte.
Valery Lyndin, porta-voz do Controlo da Missão em Moscovo, acabou por admitir os erros, e desde então a extravagante a ambiciosa ideia não foi (ainda) recuperada.
“O fracasso foi especialmente doloroso devido ao enorme interesse mundial que a experiência despertou”, disse Lyndin em 1999. “Esquecemo-nos do velho princípio dos programas espaciais russos — fazer algo primeiro e gabarmo-nos disso só depois.”