O número de sites de notícias locais falsos, nos Estados Unidos, já excede o de meios de comunicação autênticos. Há cada vez mais “desertos de informação”.
A cinco meses das presidenciais norte-americanas, vive-se, naquele país, uma “explosão” de desinformação, com o número de sites de notícias locais falsos nos EUA a exceder o de meios de comunicação autênticos.
Nos últimos meses surgiram centenas de sites que se apresentam como verdadeiros meios de comunicação locais, muitas vezes utilizando artigos partidários gerados por inteligência artificial.
O relatório do grupo de investigação NewsGuard, publicado esta terça-feira, totalizou 1.265 sites falsos.
Para efeito de comparação, a Northwestern University identificou 1.213 sites de jornais locais nos Estados Unidos no ano passado.
“Atualmente temos mais de 50% de hipóteses de ver um site que afirma cobrir notícias locais ser falso”, destacaram os autores do relatório.
Quase metade destes sites partidários tinha como alvo estados-chave que podem influenciar as eleições presidenciais de novembro em favor de Joe Biden ou Donald Trump, de acordo com o meios de comunicação ‘online’ Axios.
Entre estes meios de comunicação falsos, a NewsGuard identificou uma rede de 167 sites de desinformação russos ligados, segundo esta organização, a John Mark Dougan, um ex-polícia da Florida que fugiu dos EUA para Moscovo.
Outros sites são apoiados por grupos conservadores, bem como por alguns com orientação mais de esquerda, referem os autores do estudo.
Jornais verdadeiros sofrem
Este surgimento de meios de comunicação falsos acontece numa altura em que os jornais locais se estão a tornar cada vez mais raros nos Estados Unidos, muitas vezes devido a problemas económicos.
Num estudo do ano passado, a Northwestern University identificou 204 condados entre 3.000 nos Estados Unidos “sem jornais, sites digitais locais, redações de rádios públicas ou publicações étnicas”.
Estes condados foram, por isso, classificados como “desertos de informação”.
Os jornais continuam a desaparecer a uma taxa de mais de dois por semana nos Estados Unidos, de acordo com o estudo, enquanto o país perdeu quase dois terços dos seus jornalistas de imprensa escrita desde 2005.
“Com o desaparecimento dos jornais tradicionais, os sites falsos correm para preencher o vazio”, salientaram os investigadores.
“Milhões de americanos ficam sem informações locais autênticas, como resultado”, acrescentou a organização.
Estes sites de propaganda partidária falsos dependiam anteriormente de uma legião de autores, mas o rápido desenvolvimento da Inteligência Artificial generativa significa que agora é muito mais barato e muito mais rápido criar conteúdo falso que é difícil de distinguir do conteúdo real.
ZAP // Lusa