Nacionalizar DN, JN, O Jogo e TSF é forte possibilidade (mas não para já). “Estamos a ficar sem tempo”

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) anunciou a abertura de procedimentos sobre situação na Global Media, esta segunda-feira. Enquanto isso, há quem defenda a ideia de que o Estado deve intervir nos órgãos de comunicação social do grupo. De acordo com o especialista Jorge Bacelar Gouveia, o Governo tem margem de manobra para nacionalizar parte da empresa.

A 6 de dezembro de 2023, em comunicado interno, a Comissão Executiva da Global Media Group, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e fazer uma reestruturação, que disse ser necessária para evitar “a mais do que previsível falência do grupo”.

Depois de semanas de greves e protestos, a empresa informou os trabalhadores que não iria pagar os salários de dezembro, sublinhando que a situação financeira é “extremamente grave” e que não pode comprometer-se com datas.

Esta manhã, em declarações à Antena 1, o constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia disse que nacionalizar os órgãos de comunicação social pertencentes à Global Media – Diário de Notícias (DN), Jornal de Notícias (JN), O Jogo e TSF – é uma solução viável.

“Eu julgo que estamos a caminhar para essa solução – uma solução de nacionalização – ou de uma solução de compra e venda de parte do grupo para manter, pelo menos, os jornais na esfera pública, porque do ponto de vista da rádio já temos uma [Antena 1]”, disse o especialista de 57 anos.

“Mas isso é uma opção de natureza política… há uma grande margem de manobra do governo, para nacionalizar ou não nacionalizar”, considerou.

Jorge Bacelar Gouveia explicou ainda que, “de toda a maneira, acho que essa decisão só poderá ser tomada pelo próximo Governo, porque o Governo atual está em gestão”.

Mas, na opinião do constitucionalista, depois das eleições de 10 de março, o Governo deve tomar uma atitude ficar na posse destes órgãos.

JN está a ficar sem tempo

Esta segunda-feira, cerca de 100 pessoas reuniram-se nas instalações do Centro Cultural e Desportivo dos Trabalhadores da Câmara Municipal do Porto, para debater soluções que viabilizem a continuidade do Jornal de Notícias.

A diretora do diário, Inês Cardoso refletiu sobre a situação e expressou a expectativa de que “com tanta dor este seja o momento de viragem para fazer a reflexão sobre o serviço que o jornalismo presta a sociedade”.

O JN neste momento não tem tempo (…) é preciso agir com urgência, pois cada semana que passa é muito tempo. A decisão da ERC de avançar com um procedimento dá-nos alguma esperança. A liberdade passa mesmo pela informação e vamos celebrar 50 anos do 25 de abril”.

O antigo jornalista do diário portuense, Germano Silva, de 92, que começou no JN em 1956 (onde esteve 68 anos), caracterizou o que se passa no jornal como “uma crise que não tem rosto”, recorrendo à memória para lembrar que “houve muitos momentos de indefinição, mas o jornal nunca deixou de pagar aos empregados”.

“Sou testemunha da paixão daquela redação – são jovens… Alguns até podiam ser meus netos, mas eu tenho muito orgulho neles“, disse, emocionado.

“O Estado deve intervir”

No mesmo encontro, o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia defendeu a inscrição do Jornal de Notícias na lista de Património Cultural Imaterial da UNESCO, desafiando o Estado a ter um papel central na candidatura.

Para Eduardo Vítor Rodrigues, os 135 anos de vida do jornal “não foram em vão” razão por que “há que mobilizar todos, empresários e autarcas” na sua solução, assinalando que “na capital estão os recursos todos para financiar esta imprensa” enquanto a Norte “são precisas mãos dadas”.

Neste contexto, prosseguiu, há que “evoluir o debate para uma classificação no âmbito da UNESCO”, reclamando que o “Estado pode e deve aqui ter um papel mais central”.

Numa intervenção também pré-gravada, o autarca do Porto, Rui Moreira manifestou uma “grande preocupação” e enviou “uma palavra de esperança”, argumentando que “não se pode deixar morrer o JN”.

ZAP // Lusa

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