Muhammed Faris, o único astronauta sírio, é agora mais um refugiado

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Muhammed Faris foi o único sírio que teve oportunidade de ir ao Espaço. Com o passar dos anos, o antigo astronauta passou de um verdadeiro herói nacional a mais um de muitos refugiados.

É certo que o treino e a preparação necessários para se ser astronauta é um trabalho muito duro e que o diga Mohammed Faris, o único astronauta sírio da história.

Porém, a luta para se manter vivo e fugir à guerra na Síria tornou-se um desafio bastante mais complicado, conforme conta numa entrevista ao Middle East Eye.

“Treinar para chegar ao Espaço foi muito difícil mas, quando penso nisso, é bastante mais fácil comparado com o que eu, a minha família e todo o povo sírio tem passado nos últimos anos”, desabafa.

Com 65 anos de idade, Faris foi o primeiro e o último cidadão sírio a viajar para o Espaço em 1987. Na altura da sua chegada, foi recebido por milhares de sírios e homenageado com ruas, escolas e um aeroporto com o seu nome.

Foi venerado não só na Síria mas um pouco por todo o território árabe porque, apesar de não ter sido o primeiro árabe a viajar para o Espaço – o primeiro foi Sultan Bin Salman Al Saud, um membro da família real saudita – foi o primeiro homem do povo a consegui-lo.

Faris juntou-se entretanto à Força Aérea síria, lugar do qual decidiu desertar quando a organização começou a bombardear os seus próprios cidadãos. Considerado um traidor, viu a honra e glória dos últimos anos dissipar-se, assim como os seus bens que acabaram por ser confiscados.

“Existiam pilotos, alguns dos quais que eu próprio tinha treinado, que começaram a bombardear o nosso povo. Era insuportável e inaceitável“, conta.

Faris tentou fugir várias vezes para a Turquia mas nunca teve sucesso graças à apertada vigilância a que estava sujeito. Em 2012, juntamente com a família, conseguiu alcançar a pé o país vizinho, onde vive atualmente.

“Quando estávamos prestes a partir, lembro-me de dizer aos meus filhos que iríamos regressar à Síria no mês seguinte. Estava muito errado”, recorda.

O antigo astronauta desconfia cada vez mais das boas intenções das nações ocidentais e considera que nenhum desses países é de confiança.

“Os meus amigos russos dizem-me muitas vezes que sou muito bem-vindo lá. Mas eu respondo sempre que, enquanto os seus políticos continuarem a sustentar o brutal ditador Bashar al-Assad, isso é impossível”, afirma.

“Também recebi muitos convites de outros países ocidentais mas prefiro estar aqui, lugar onde posso tentar fazer alguma coisa pela libertação do meu país. Em todo o caso, só me querem transformar num símbolo para esconder a verdadeira indiferença que sentem pelo meu país e pelo meu povo”, acusa.

Faris é atualmente um dos membros de um grupo da oposição chamado Comité de Coordenação Nacional da Síria para a Mudança Democrática.

“Não tenho ambições pessoais nesta idade. Só quero passar o resto dos anos em paz na minha casa, num país onde o povo é livre e as crianças podem viver com esperança”.

ZAP

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