/

Já morreram três jornalistas que estavam a cobrir o Mundial no Qatar

1

(h) FIFA

O fotojornalista qatari Khalid al-Misslam foi o nome mais recente a juntar-se ao britânico Roger Pearce e ao norte-americano Grant Wahl, tento também morrido enquanto cobria o Mundial no Qatar.

Para além do caso do norte-americano Grant Wahl, já morreram mais dois jornalistas que estavam no Qatar a fazer a cobertura do Mundial 2022. Apenas dois dias depois de Wahl, o fotojornalista Khalid al-Misslam, natural do Qatar, também perdeu a vida enquanto trabalhava no evento desportivo.

O meio de comunicação qatari Gulf Times anunciou a morte no Twitter. “Al-Misslam, um qatari, morreu subitamente enquanto cobria o Mundial da FIFA no Qatar em 2022. Acreditamos na misericórdia e no perdão de Alá e enviamos as nossas condolências profundas à sua família”, pode ler-se no tweet.

Roger Pearce, director técnico do departamento desportivo da estação de televisão britânica ITV, também perdeu a vida no Qatar no dia 21 de novembro. A sua morte foi confirmada na altura pelo repórter Mark Pougatch.

“Temos uma notícia muito triste para vos trazer daqui do Qatar. O nosso director técnico, Roger Pearce. que estava aqui a cobrir o seu oitavo Mundial, infelizmente morreu”, revelou Pougatch, que acrescentou que Pearce era “uma figura imensamente respeitada na indústria da transmissão desportiva” e que “tinha sempre um sorriso no rosto“.

As causas das mortes de Al-Misslam e de Pearce não foram divulgadas. No caso de Wahl, o jornalista desmaiou na tribuna da imprensa pouco antes de começaram os penáltis no jogo entre a Argentina e os Países Baixos nos quartos-de-final.

Os paramédicos presentes do estádio deram assistência imediata a Wahl e tentaram reanimá-lo durante 20 minutos. O jornalista foi depois transportado para um hospital local onde foi pronunciado morto. De acordo com o hospital, a causa da morte foi um ataque cardíaco.

 

Wahl, de 48 anos, ganhou notoriedade mediática após ter sido detido por usar uma camisola com a bandeira arco-íris, um símbolo LGBT, durante o jogo entre os Estados Unidos e o País de Gales.

“Um agente da segurança disse-me que a minha camisola era política e que não estava autorizada. Outro recusou continuamente devolver-me o telemóvel. E outro guarda gritou-me que tinha que a tirar”, relatou o jornalista, que disse ter estado detido durante uns 25 minutos.

Pouco depois da morte de Wahl, o seu irmão Eric, que é homossexual, disse suspeitar de que o repórter foi assassinado devido às suas críticas às políticas discriminatórias no Qatar. Recorde-se que a homossexualidade é punida com pena de prisão no país.

“O meu nome é Eric Wahl. Eu vivo em Seattle, Washington. Sou irmão do Grand Wahl. Sou gay. Sou a razão pela qual ele usou a camisola arco-íris no Mundial. O meu irmão era saudável. Ele disse-me que foi ameaçado de morte. Não acredito que o meu irmão tenha apenas morrido. Acho que foi assassinado. E imploro por qualquer ajuda”, acusou Eric num vídeo no Instagram e que entretanto foi apagado.

O irmão do jornalista norte-americano também disse entretanto que não havia um desfibrilhador no local e que a família só se vai pronunciar sobre a sua causa de morte após ser feita uma autópsia ao corpo já nos Estados Unidos.

“Independentemente do resultado, não tenho nada pelo qual pedir desculpa. Este Mundial nunca devia ter acontecido onde está a acontecer. E por favor, por favor, parem com as parvoíces sobre a vacina. Isso é um insulto para a nossa família porque a esposa do Grant é uma epidemiologista”, escreveu Eric no Twitter.

A FIFA respondeu aos “relatos imprecisos” de Eric e garantiu que a equipa de paramédicos tinha um desfibrilhador. “Todos os esforços foram feitos por parte dos médicos para salvar a sua vida. Os nossos pensamentos estão com a família de Grant Wahl”, lê-se no comunicado da FIFA.

A FIFA anunciou entretanto a criação de três livros de condolências que os jornalistas presentes no Qatar poderão assinar para honrar a memória dos três repórteres que perderam a vida.

Foram detidos 533 jornalistas este ano

A organização não-governamental (ONG) Repórteres Sem Fronteiras (RSF) indicou esta quarta-feira que 533 jornalistas foram detidos, este ano, em todo o mundo, um número que representa um novo máximo.

Em 2021, o número de jornalistas detidos, 488, já tinha sido considerado um recorde histórico, acrescentou a ONG de defesa da liberdade de imprensa, sediada em Paris, no relatório anual.

O número de jornalistas mortos (57) está também a aumentar, nomeadamente devido à guerra na Ucrânia.

No ano passado e em 2020, este número, 48 e 50, respetivamente, foi considerado “historicamente baixo”.

Mais de metade dos jornalistas presos em todo o mundo, a 1 de dezembro, encontravam-se em cinco países: China (110), Myanmar (antiga Birmânia, 62), Irão (47), Vietname (39) e Bielorrússia (31).

O Irão é o único país que não constava desta “lista negra” no ano passado, indicou a RSF, que mantém este registo anual desde 1995.

A República Islâmica deteve um número “sem precedentes” em 20 anos de profissionais da comunicação social, desde o início do movimento de protesto, em setembro.

“Os regimes ditatoriais e autoritários estão rapidamente a encher as prisões com jornalistas”, disse o secretário-geral da ONG, Christophe Deloire.

Neste relatório global, a RSF notou um número sem precedentes de mulheres jornalistas na prisão: 78. No ano passado, a ONG contou 60.

“As mulheres jornalistas representam atualmente quase 15% de todos os detidos, em comparação com menos de 7% há cinco anos”, indicou.

Adriana Peixoto, ZAP //

1 Comment

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.