Quase 70% dos americanos também acreditam que a democracia no país está sob ameaça. Mais de 40% defendem a teoria da conspiração da grande substituição, que já inspirou vários tiroteios em massa.
Entre tiroteios com motivações políticas, o atropelamento mortal de uma contra-protestante na manifestação de milícias de extrema-direita em Charlottesville em 2017 ou a insurreição no Capitólio a 6 de Janeiro de 2021, a sociedade norte-americana está a sofrer com uma polarização política que não dá sinais de acalmar.
Um recente inquérito da Universidade de Califórnia procurou apurar a percepção dos norte-americanos sobre o aumento da violência política nos últimos anos. As conclusões preliminares já foram publicadas no medRxiv e são pouco animadoras.
Dois terços dos inquiridos (67,2%) considera que a democracia no país está sob ameaça e metade (50,1%) acha mesmo que os Estados Unidos vão mergulhar numa guerra civil num futuro próximo.
Quase metade (42,4%) defende que é mais importante ter um líder forte do que viver em democracia e 18,7% concorda com a ideia de que a força é necessária para proteger a democracia quando “os líderes eleitos não o fazem”.
Num cenário onde ache que a violência política é justificada, um em cada cinco inquiridos antecipa estar armado, 12,2% admitem fazer ameaças, 10,4% ponderam ferir alguém e 7,1% dizem estar dispostos a matar um opositor político.
Entre os cenários onde os inquiridos consideram que a violência é justificada, incluem-se a reinstauração de Donald Trump na presidência (11,7%), a preservação do modo de vida americano (26,2%) ou a oposição a um Governo contrário às suas crenças (20,3%).
A crença em teorias da conspiração, algumas baseadas em preconceitos racistas, também está a moldar a postura dos cidadãos sobre a violência política.
Cerca de dois em cada cinco adultos (41,2%) acredita na teoria da grande substituição — uma teoria da conspiração que defende que os americanos brancos estão a ser deliberadamente “substituídos” por imigrantes para fins eleitorais.
Esta teoria já inspirou vários tiroteios em massa, como o massacre de 2019 em duas mesquitas de Christchurch, na Nova Zelândia, onde morreram 51 pessoas; ou o recente tiroteio num supermercado em Buffalo, nos Estados Unidos, onde um jovem de 18 anos “eco-fascista” que queria “matar o máximo de pretos possível” disparou mortalmente sobre 10 pessoas numa comunidade maioritariamente negra.
Outra conspiração em que 28,1% inquiridos acreditam é a ideia de que o Governo, o sector financeiro e os meios de comunicação dos EUA são controlados por pedófilos satânicos — um dos pilares da teoria do QAnon, que também defende que Donald Trump era um herói que estava a lutar contra estas elites e as suas supostas redes de tráfico de crianças.
Já 25,3% acreditam na “Big Lie” e acham que Donald Trump foi vítima de fraude eleitoral e que Joe Biden não é o Presidente legítimo.
Apesar de ser mais notório um aumento da violência de extrema-direita, há também um “desejo latente de militância na esquerda política“. As mulheres, os negros, os latinos e os asiáticos também estão a comprar mais armas e 36% dos inquiridos acredita que a violência é uma resposta justificável para se “impedir a discriminação com base na raça ou na etnia”.
A pesquisa lembra ainda que as mortes causadas pelo uso de armas aumentaram quase 43% entre 2010 e 2020 e que a venda de armas entre Janeiro de 2020 e Junho de 2022 disparou 46,6% acima dos valores esperados, nota a Science.
Este aumento tem uma correlação com o maior número de homicídios em solo americano, que cresceu 28% — a maior subida de sempre — entre 2019 e 2020, tendo uma arma de fogo sido usada em 62,1% das mortes em 2020 e em 57,7% dos assassinatos em 2019.
“Esperávamos que os resultados fossem assustadores, mas excederam as nossas piores expectativas. O que acham que acontece quando a supressão do voto pela força choca com a defesa do voto pela força? Isto não é conversa de malucos, é um cenário perfeitamente plausível”, diz Garen Wintemute, especialista na política de armas dos EUA e autor principal do estudo, ao Los Angeles Times.
A amostra do inquérito consistiu em 8620 pessoas, com um panorama geralmente representativo dos vários grupos demográficos dos EUA — 50% de mulheres, 62% de brancos, 17% de hispânicos, 12% de negros e 5,4% de asiáticos — e uma idade média de 48 anos.
“Este não é um estudo que tem o objectivo de chocar, mas deve ser chocante“, revela Rachel Kleinfeld, especialista em violência política. Kleinfeld lembra ainda que o amostra do estudo tem um número desproporcional de pessoas mais velhas, que geralmente são menos propícias à violência. “Por isso o facto de continuarmos a ter estes números altos, é muito preocupante”.
O inquérito não é o primeiro a ter resultados alarmantes sobre a polarização política nos EUA. Um pequeno estudo de 2021 revelou que 46% dos eleitores acredita que a América vai sofrer uma segunda guerra civil e uma outra pesquisa mostrou que mais de um terço dos americanos concorda que “o modo de vida tradicionalmente americano está a desaparecer tão rápido que talvez seja precisa força para o salvar”.
Congressistas aumentam a segurança
Perante este cenário e o aumento das ameaças aos responsáveis políticos, os membros da Câmara dos Representantes vão receber mais 10 mil dólares para aumentarem a segurança nas suas casas, relata o The Guardian.
O anúncio veio poucos dias depois de um homem ter atacado o congressista Republicano Lee Zeldin com um objecto afiado durante um evento de campanha.
Há duas semanas, um homem foi detido nos arredores da casa da congressista Democrata Pramila Jayapal por ter ameaçado matá-la e gritado insultos racistas. No mês passado, um homem foi acusado federalmente por alegadamente ter planos para assassinar Brett Kavanaugh, juiz do Supremo Tribunal.
Os membros do comité da Câmara dos Representantes que está a investigar o assalto ao Capitólio estão a ser particularmente atacados, tendo o congressista Republicano Adam Kinzinger partilhado recentemente uma carta enviada à sua esposa no mês passado onde se podiam ler ameaças de execução de Kizinger, da sua mulher e do seu filho recém-nascido.
A polícia do Capitólio reportou 9625 ameaças contra membros do Congresso no ano passado, em comparação com 3939 em 2017.
Esperemos que não. Quem ía bater palmas eram os russos, os chineses e os norte- coreanos. Esperemos que os USA sejam espertos. A primeira guerra civil já foi tão sangrenta.
Merica!…
No Faroeste nada mudou !