O Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, comparou com terrorismo a atitude de manifestantes e grevistas que participaram na greve nacional convocada pela oposição e nos protestos de cidadãos para exigir a sua renúncia.
“Estamos a começar a enfrentar ameaças terroristas”, afirmou o mandatário durante uma reunião preparatória da sexta Assembleia Popular da Bielorrússia, que inclui representantes de toda a sociedade e se reúne de cinco em cinco anos.
“Como se pode avaliar o facto de que foram para as ferrovias, começaram a bloquear o sistema automático e provocaram curto-circuitos nas vias?”, questionou o Presidente.
Já na segunda-feira, Konstantin Bichek, chefe do Departamento de Investigação do Comité de Segurança do Estado (KGB), disse que nos últimos dias “as ações extremistas de manifestantes se tornaram mais frequentes” na Bielorrússia.
Bichek assegurou que as ações que incluem “explosões, incêndios premeditados e outros atos que ameaçam com morte, lesões ou outras consequências graves” vão ser tratadas como “atos de terrorismo”.
Lukashenko fez estas declarações no segundo dia da greve geral convocada pela oposição em todo o país, diante da recusa do mandatário em responder a um ultimato que expirou na noite de domingo e que exigia que se demitisse, libertasse os presos políticos e renunciasse à repressão policial.
A oposição e os cidadãos afetados denunciam o uso excessivo de força das unidades especiais de segurança, o uso de granadas de atordoamento, balas de borracha, gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar e deter os participantes nas marchas.
Na segunda-feira, o primeiro dia da greve – na qual participaram trabalhadores de empresas estatais, professores, médicos, estudantes e informáticos – foram detidas quase 600 pessoas, segundo o Ministério do Interior.
Ontem foram detidas pelo menos 35 pessoas em diferentes atos da greve em todo o país, segundo a contagem recente da organização de direitos humanos Vesná. Entre os detidos estão 11 médicos e especialistas, por isso o Centro Republicano de Ciências Práticas de Cardiologia teve que adiar as cirurgias previstas para o dia de ontem.
Os estudantes continuaram com as ações de protesto, tal como vários trabalhadores de grandes empresas estatais, que denunciam pressões da administração e ameaças de despedimento se não regressarem ao trabalho, segundo o portal independente Tut.by. A líder da oposição no exílio, Svetlana Tikhanovskaya pediu apoio para as fábricas e empresas em greve, para alunos e professores.
“A greve continua. Sabemos que neste momento funcionários de fábricas e empresas recusam-se a ceder e fazer turnos, resistem às forças de segurança e às ordens repressivas da administração e apresentam cada vez mais pedidos de adesão à greve”, afirmou.
O Fundo Bielorrusso de Solidariedade arrecadou mais de 2,2 milhões de euros para apoiar aqueles que perderam o trabalho devido à repressão política, segundo a sua conta na rede social Facebook. Lukashenko disse que as autoridades “não vão persuadir” aqueles que aderiram à greve, porque “é hora de todos escolherem o caminho que desejam seguir nesta vida”.
O mandatário atacou os estudantes e professores que participam na greve, ao afirmar que “têm de ser expulsos das universidades” e garantindo que têm apenas duas opções: “o exército ou a rua”.
A oposição bielorrussa exige a saída de Lukashenko desde as contestadas eleições presidenciais de 9 de agosto, que atribuíram ao líder bielorrusso, no poder há 26 anos, um sexto mandato.
ZAP // Lusa