Interacções sociais: adultos olham para o corpo, crianças julgam o que a pessoa está a fazer

Adultos têm percepções automáticas, crianças fazem julgamentos. Universidade de Coimbra realizou estudo com galeses.

Crianças e adultos podem usar estratégias diferentes para perceber interacções entre pessoas.

Este foi o foco de um estudo sobre o cérebro, realizado por especialistas da Universidade de Coimbra e da Universidade de Bangor (País de Gales, Reino Unido).

O processo de interpretação das interações sociais requer que cada pessoa consiga decifrar múltiplos tipos de informação – perceber posturas corporais ou intenções subtis durante o contacto social – e tirar conclusões sobre os pensamentos e sentimentos dos outros.

Jon Walbrin, um dos autores do estudo, contextualiza: “A maior parte do trabalho prévio de neurociência social visual centra-se na medição de respostas a outros enquanto indivíduos. No entanto, há pouca investigação sobre a percepção da interação social entre indivíduos e ainda muito pouco se sabe sobre como essa aprendizagem se desenvolve durante a infância”.

Esta nova análise, publicada no The Journal of Neuroscience, envolveu dois grupos de participantes: crianças entre os 6 e os 12 anos e adultos maiores de 18 anos.

Os dois grupos participaram em sessões de ressonância magnética funcional e ambos viram vídeos curtos sobre a interacção entre duas pessoas.

As respostas de activação no sulco temporal superior – uma área do cérebro envolvida no processamento visual de interações sociais – foram medidas e comparadas com respostas de conectividade noutras partes do cérebro.

Os adultos mostraram forte conectividade em áreas do cérebro associadas a informação estática e dinâmica do corpo: postura e movimentos corporais, por exemplo.

As crianças activaram mais as áreas do cérebro associadas a processos mentais profundos: juízos sociais sobre o que os outros estarão a sentir ou a pensar. Imaginando um pensamento de uma criança: “As duas pessoas estão a mexer-se rapidamente; parecem zangadas; estão a discutir”.

Esta análise cerebral chegou assim a uma conclusão principal sobre a percepção da interacção entre pessoas: os adultos baseiam-se mais em percepções automáticas através de informações corporais; as crianças baseiam-se mais em julgamentos sobre o que as pessoas estão a fazer.

As crianças aprendem gradualmente a perceber melhor informação sobre interacção, através do envolvimento das áreas do cérebro associadas à compreensão dos pensamentos e emoções dos outros.

“Os resultados do estudo são importantes para perceber que tipo de informação social (movimentos corporais ou julgamentos sociais profundos) contribui para entender a interação social à medida que o cérebro se desenvolve”, comentou Jon Walbrin, investigador do laboratório de neurociência cognitiva da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.

Os investigadores querem, de seguida, estudar a progressão deste fenómeno durante a adolescência.

ZAP //

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