Um humilde agricultor é o protagonista de uma das perseguições mais bizarras da história. Nem etnia, nem religião estão envolvidas — Joseph Palmer foi preso e agredido por ter pelo na venta.
“Perseguido por usar a barba” é a triste memória que enfeita a lápide de Joseph Palmer, criminoso de moda do séc. XIX.
O veterano de guerra tinha 40 anos quando decidiu deixar crescer a barba, em homenagem a Moisés e Jesus, segundo o livro Massachusetts Troublemakers: Rebels, Reformers and Radicals.
Entre milhões de caras rapadas, surgia Joseph Palmer com uma grande barba, que na época era quase exclusivamente associada a selvagens e aos judeus americanos. Foi aí que começou a ser ridicularizado.
Por onde passava, jovens rapazes atiravam-lhe pedras e gritavam “Velho judeu Palmer!”, recorda o autor Stewart H. Holbrook em Homens Perdidos da História Americana, onde diz que até a vida do filho de Palmer, Tom, sofreu as consequências.
Os seus longos, farfalhudos pelos faciais custaram-lhe a liberdade e a integridade, tendo sido agredido por outros homens e atirado para a cadeia pelas autoridades locais — tudo porque não queria levar a lâmina à face.
Foi num dia do mês de maio de 1830 que a chacota foi longe de mais. Enquanto entregava carne e pepinos num hotel, Palmer foi abordado por quatro homens que tentaram, com tesouras e lâminas, cortar a sua barba. Joseph defendeu-se e afastou os agressores, acabando mesmo por lesionar as pernas de dois homens com a sua faca.
Por devolver na mesma moeda, Palmer acabou detido e acusado de agressão não provocada. Na prisão, ainda mais indivíduos atacaram o inocente.
Mas o agricultor não cedeu à pressão. As autoridades esperavam que o americano de Massachusetts pagasse a fiança de 700 dólares e partisse, mas ele não o fez. Durante semanas, passou mal na prisão, onde era continuamente agredido e vivia em condições precárias — condições essas que ia denunciando ao xerife do seu condado e aos jornais locais.
Palmer, que foi pressionado a abandonar o condado por lhe conceder uma má imagem, nunca cedeu, até ao dia em que foi retirado à força da prisão de Worcester pelos guardas do estabelecimento e deixado no passeio, esquecido.
A vida do visionário prosseguiu. Na comunidade de Fruitlands, que ajudou a fundar, lutava pela reforma do sistema prisional e pelo fim da escravatura. Acabou por comprar a comuna e lá viveu com a sua mulher, Nancy, acolhendo mendigos e todos os que o visitassem até ao dia da sua morte, em 1873.
Visto como um excêntrico pelos locais, Palmer era um humilde agricultor, descrito como “um honesto, simpático homem e bom cidadão, profundamente religioso mas tolerante, um homem de muitos interesses intelectuais.” Um verdadeiro visionário, uma vez que depois da sua morte, ficaram na moda todos os tipos de barbas — desde o cavanhaque ou da patilha ao cardápio atual, mundialmente aceite e apreciado.