Milhares de pessoas perderam a vida quando duas bombas atómicas foram lançadas sobre o Japão em 1945, mas Tsutomu Yamaguchi não foi uma delas.
Tsutomu tinha 29 anos quando foi atingido pela explosão da primeira bomba, que caiu em Hiroshima a 06 de Agosto.
O homem estava a ir a pé para o trabalho, naquele que era o seu último dia de uma viagem de negócios. No dia seguinte voltaria para casa, segundo relatou o Unilad.
O homem estava perto da fábrica da Mitsubishi quando o avião norte-americano largou a bomba sobre a cidade.
De acordo com a Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares (ICAN), a bomba de urânio tinha um rendimento explosivo igual a 15 mil toneladas de TNT, e atingiu cerca de 70% dos edifícios da cidade, incluindo 42 dos 45 hospitais.
Entre os milhares de feridos encontravam-se 90% dos médicos e enfermeiros de Hiroshima, o que significa que mesmo aqueles que sobreviveram ao bombardeamento não conseguiam receber cuidados.
Tsutomu chegou a ver o pequeno objeto a sair do avião e teve apenas tempo para saltar para uma vala. O homem foi atirado para trás devido à explosão. Estava a menos de três quilómetros do local onde a bomba caiu e ficou com queimaduras graves, mas foi capaz de se levantar.
“Não sabia o que tinha acontecido. Acho que desmaiei durante algum tempo. Quando abri os olhos, estava tudo escuro e não conseguia ver muito. Foi como o início de um filme no cinema antes de a imagem ter começado, quando os quadros em branco estavam apenas a piscar, sem qualquer som”, disse mais tarde ao The Times.
Tsutomu dirigiu-se na direção da fábrica da Mitsubishi, mas o edifício tinha desaparecido. Conseguiu encontrar dois colegas que tinham sobrevivido e passado a noite num abrigo improvisado enquanto os fogos ardiam à sua volta.
A estação de comboios permanecia operacional e Tsutomu conseguiu embarcar para casa, que ficava em Nagasaki. Quando chegou, a 08 de agosto, dirigiu-se ao hospital e apercebeu-se da extensão dos seus ferimentos, que incluíam queimaduras graves e sintomas de envenenamento nuclear ligeiro.
Um dia depois, Tsutomu foi convocado pelo Mitsubishi para explicar o que tinha visto em Hiroshima. Enquanto estava na fábrica, uma bomba de plutónio ligeiramente maior explodiu sobre Nagasaki.
Foram as paredes de betão reforçado que o salvaram dessa vez e Tsutomu correu para encontrar a mulher e o filho. A temperatura do solo atingiu os 4.000° C e a chuva radioativa invadiu a cidade, relatou a ICAN. A casa da família foi destruída, mas a ambos tinham saído para fazer compras quando a bomba caiu e sobreviveram.
A intensa radiação a que esteve exposto fez com que Tsutomu ficasse extremamente doente, mas gradualmente foi recuperando. Só no início dos anos 2000 é que falou publicamente sobre o que lhe aconteceu, num livro de memórias.
Faleceu em 2010, aos 93 anos, após ter sido reconhecido pelo governo japonês como um “nijyuuu hibakusha” – “pessoa duplamente bombardeada”.