Os partidos populistas começaram a afastar-se de Vladimit Putin após o início do conflito armado na Ucrânia, mas há algumas excepções.
Com o crescimento da extrema-direita em vários países europeus nos últimos anos, surgiram muitos rumores e ligações dos partidos a Vladimir Putin. No entanto, a guerra na Ucrânia obrigou estes responsáveis políticos a ter de escolher um lado e a distanciarem-se das acções do Kremlin.
De acordo com um estudo da London School of Economics, o conflito armado na Ucrânia gerou uma mudança significativa na relação dos partidos de extrema-direita europeus com a Rússia.
Partidos como o francês Reunião Nacional de Marine de Le Pen (anteriormente chamado Frente Nacional), o Partido da Liberdade da Áustria e o Alternativa para a Alemanha foram grandes aliados de Moscovo dentro da União Europeia. No parlamento europeu, os partidos de direita mais radicais que compunham o grupo Identidade e Democracia seguiam uma linha próxima à Rússia.
O Governo de Viktor Orbán, na Hungria, foi até chamado de “Cavalo de Tróia de Putin” e continua até agora a causar dores de cabeça a Bruxelas e à NATO.
No entanto, a tendência está a mudar desde 2022. O partido Irmãos de Itália, que está agora no governo, fez uma campanha eleitoral muito crítica de Putin, com a primeira-ministra Giorgia Meloni a deixar clara a distinção com a Liga de Matteo Salvini, que anteriormente já tinha expressado um apoio ao líder russo.
O mesmo aconteceu com Le Pen. Em 2017, a candidata presidencial francesa viajou até Moscovo e encontrou-se com Putin, tendo também apoiado a anexação da Crimeia e recebido empréstimos de um banco russo para financiar a sua campanha.
Já na campanha em 2022, o tom de Le Pen foi bastante diferente. A candidata afirmou que a invasão da Ucrânia é “indefensável” e procurou distanciar-se do Presidente russo, dizendo que o “Vladimir Putin de há cinco anos não é o mesmo de hoje“.
Estas mudanças de postura são apoiadas pelos dados. A pesquisa analisou 13 mil votos no Parlamento Europeu entre Julho de 2019 e Junho de 2022 para perceber se house alterações na “assertividade perante a Rússia” entre os partidos populistas.
Os resultados mostram que os eurodeputados do Vox (Espanha), Lei e Justiça (Polónia) e Irmãos de Itália (Itália) são os mais duros para com a Rússia. Do outro lado da moeda, o Partido da Liberdade da Áustria (Áustria), o Alternativa para a Alemanha (Alemanha) e a Reunião Nacional (França) mostraram uma maior conformidade com os interesses russos.
No geral, a postura dos partidos endureceu, passando de uma média de 0,53 para 0,57 depois do início da guerra. No entanto, há diferenças significativas entre os partidos individuais — a agressividade do Lei e Justiça e do Vox com Moscovo caiu, enquanto que a do Fidesz (Hungria) mais do que duplicou.
“Em conclusão, a questão da assertividade em relação à Rússia mantém os partidos populistas de direita radical em desacordo, mesmo quando se tornam mais críticos de Putin. A invasão russa de 2022 desferiu um duro golpe na influência da Rússia entre estes partidos, destruindo o seu apoio anterior. Como resultado, o regime de Putin tornou-se tóxico, complicando ainda mais as perspectivas de unificação da extrema-direita”, rematam os autores.