Em França, service compris significa que a gratificação já está incluída na conta. Noutros países, nomeadamente na Ásia Oriental, a ausência de qualquer tradição de gorjeta é motivo de orgulho.
Em maio, trabalhadores da loja da Apple em Maryland, nos Estados Unidos, fizeram uma série de exigências referentes a direitos laborais. Entre as propostas — que incluem mais dias pagos por feriados nacionais, mais dias de férias, formação de primeiros socorros e pagamento a dobrar por horas extraordinárias — está o controverso sistema de gorjetas.
A ideia dos funcionários da Apple seria acrescentar uma opção no fim de cada pagamento por cartão de crédito, dando a oportunidade aos clientes de oferecer uma gorjeta de 3%, 5% ou uma quantia personalizada. Estaria, claro está, disponível a opção de não atribuir qualquer compensação.
A gorjeta espalhou-se um pouco por todo o mundo e está a dar que falar. Mas será que todos os países abraçam esta cultura com tanto fervor como os norte-americanos?
Não e exemplo disso é o Japão. Dar gorjeta não é apenas invulgar neste país: o ato é considerado embaraçoso, incómodo e até ofensivo.
“Mesmo que os turistas sejam informados de que no Japão não se dá gorjeta, algumas pessoas continuam a querer mostrar o seu apreço com dinheiro – mas não é assim que funciona”, explicou James Mundy, do InsideJapan Tours, à BBC.
“É comum as pessoas deixarem dinheiro aos empregados de mesa nos restaurantes e depois serem perseguidas numa estrada e receberem o dinheiro de volta. Muitos não conseguem compreender que as pessoas fazem o seu trabalho com orgulho, e um oishikatta (estava delicioso), ou um gochiso sama (obrigado por ter preparado a refeição) cairá muito bem. O dinheiro nem sempre fala”, acrescentou.
A aversão dos japoneses à gorjeta é real. Shokunin kishitsu, que se traduz aproximadamente por “trabalho artesanal”, é uma filosofia que se estende em diversos setores de atividade relacionados com o turismo. Baseia-se em realizar um trabalho com orgulho, sendo o apreço normalmente demonstrado através de elogios (de preferência, em japonês) ou de vénias.
A China é outro exemplo. Em cidades como Pequim e Xangai, existe um sentimento de superstição e tradição associado às gorjetas, que chegaram até a ser proibidas.
Um dos princípios do país é que todas as pessoas são iguais, pelo que insinuar superioridade em relação a alguém é, desde há muito, um tabu. No entanto, Maggie Tian, do Intrepid Travel, o crescimento do turismo chinês e a assimilação de muitos costumes ocidentaisestá a levar a uma mudança gradual desta objeção.
“Os chineses ainda não têm o hábito de dar gorjetas, mas as gratificações são agora aceitáveis, especialmente nas cidades maiores, onde há muitos residentes e visitantes estrangeiros. Se estiver de visita, é bem-vindo dar uma pequena gorjeta aos porteiros, guias turísticos e empregados de bar pelo serviço excecional ou apoio especial. Apesar da sua história, os habitantes locais ficarão agradecidos”, referiu.
A maior surpresa desta artigo é, provavelmente, o país mais feliz do mundo: a Dinamarca, conhecida pela sua sociedade igualitária e generosidade comunitária, não é fã de gorjetas e tal é explicado por duas razões.
Por um lado, os cidadãos beneficiam de um PIB per capita mais elevado e de um melhor sistema de segurança social do que na maioria dos outros países do mundo, o que significa que trabalhadores que prestam serviços, taxistas e trabalhadores da “linha da frente” não dependem de gorjetas. Além disso, está normalmente incluída na fatura dos restaurantes e hotéis.
Ainda que não seja uma tradição dar gorjeta na Dinamarca, é comum arredondar-se a conta de um restaurante como gesto simbólico.