Gouveia e Melo alerta para “perigo para o Estado” na costa portuguesa

José Sena Foulão / Lusa

O chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Henrique Gouveia e Melo

Portugal e Espanha são os principais pontos de entrada de drogas vindas do Norte de África na Europa. Gouveia e Melo teme que cresçam os subornos das redes de tráfico às populações e às autoridades.

Relatórios recentes indicam que anualmente três mil toneladas de haxixe produzido no Norte de África entram na Europa, principalmente através das costas portuguesa e espanhola. Este negócio ilícito gera uma movimentação financeira alarmante, estimada em cerca de 70 mil milhões de euros, equivalente a um terço do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal.

As autoridades portuguesas e espanholas estão em alerta máximo, principalmente devido às potenciais ameaças que este tráfico representa, incluindo a possibilidade de subornos a civis e autoridades.

“Agora vamos procurar os traficantes mais longe da costa, no meio oceânico, onde acontecem os encontros logísticos, e temos obtido bons resultados”, adianta o almirante Gouveia e Melo em declarações ao Correio da Manhã.

O chefe da Armada sublinha ainda o perigo de suborno das populações por parte das redes de tráfico. “É uma infiltração na nossa estrutura social, que vai corrompendo a nossa sociedade. É um perigo para o Estado, principalmente quando tentam subornar os próprios operacionais e autoridades locais”, considera.

No ano de 2023, a Autoridade Marítima Nacional e a Marinha de Portugal, em colaboração com a Força Aérea e a Polícia Judiciária, intensificaram as operações de combate ao tráfico, resultando na apreensão de 33 toneladas de haxixe.

Os métodos empregados pelos traficantes também evoluíram. Quando detetam a presença das autoridades, frequentemente descartam as drogas ao mar, aproveitando-se da legislação portuguesa que, ao contrário da Espanha, é mais permissiva relativamente a embarcações suspeitas sem drogas a bordo. Esta diferença legislativa tem sido um desafio adicional para as autoridades portuguesas.

As forças de segurança portuguesas estão, contudo, a fazer progressos significativos. Em 2023, além das apreensões de haxixe, 87 suspeitos, principalmente marroquinos e espanhóis, foram detidos ou identificados, e 35 lanchas rápidas, essenciais no transporte das drogas, foram apreendidas.

A missão do submarino português ‘Arpão’ tem sido vital nesta luta, fornecendo informações relevantes através de vigilância intensa no Mediterrâneo. A preocupação com o uso de submergíveis para o transporte de drogas, uma tática comum na América Latina, também está no radar das autoridades, evidenciada pela interceção de um submergível carregado com cocaína em 2019.

ZAP //

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