Na acusação deduzida contra o ex-CEO do BESA, Álvaro Sobrinho, o Ministério Público (MP) afirma que o dinheiro para as suas compras pessoais foi sacado diretamente das contas nas quais aquela entidade bancária recebia os financiamentos do Banco Espírito Santo (BES).
De acordo com MP, esses saques eram registados contabilisticamente como créditos concedidos a clientes cujo nome não era inscrito nas contas do banco e serviam para o banqueiro angolano financiar gastos pessoais, as suas empresas e de familiares, avançou esta terça-feira o Público.
Segundo o jornal diário, entre 2010 e 2011, Álvaro Sobrinho gastou aqui 2,5 milhões de euros em relógios na Boutique dos Relógios – em Lisboa ou Cascais. Uma das peças que adquiriu custava 442 mil euros – um relógio de pulso da marca Greubel Forsey, modelo Quadruple Turbilhão OR.
O antigo presidente do BES Angola terá conseguido igualmente desviar 15 milhões de euros do banco para o Sporting, entre 2007 e 2012, num total de 390 milhões de euros, através de diversas sociedades offshore com contas bancárias na Suíça e de outras jurisdições.
“Com o propósito de ajudar o clube de futebol, consumiu os fundos existentes na conta do BESA, apropriando-se dos mesmos, como se lhe pertencessem, bem sabendo que os valores disponíveis se destinavam a financiar a atividade do banco e que atuava em violação clara dessa finalidade”, critica o MP.
Além de relógios, Álvaro Sobrinho terá também comprado em Portugal, alegadamente com verbas do BESA, seis apartamentos de luxo no empreendimento Estoril-Sol Residence, por nove milhões, e uma quinta no Douro que pertencia à família Cálem.
A tese do DCIAP é a de que tanto Ricardo Salgado como o seu braço direito, Amílcar Morais Pires, estavam cientes de que o BESA funcionava à margem das regras de funcionamento da banca europeia e que beneficiavam desse facto.
Este secretismo, refere ainda a acusação, “tornou o BESA uma das unidades eleitas por Ricardo Salgado para a concretização de algumas operações” no GES “indiretamente financiada pelo BES, ficando desse modo fora do balanço do banco e da esfera de controlo da supervisão portuguesa”.
Por outro lado, houve sociedades offshore que tinham o patrão do BES como beneficiário final a receberem dinheiro proveniente da filial de Angola.
O MP acusou Álvaro Sobrinho de 23 crimes, incluindo branqueamento e abuso de confiança. Já a Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires são imputados crimes de abuso de confiança e burla qualificada. Hélder Bataglia e Rui Silveira foram acusados de abuso de confiança e burla qualificada, respetivamente.
O MP requer que seja declarada perdida a favor do Estado, sem prejuízo do direito de lesados, a vantagem obtida com a prática dos crimes imputados, num valor que supera os cinco mil milhões de euros.
A Ricardo Salgado, Amílcar Morais Pires e Rui Silveira são pedidos mais de 4,7 mil milhões de euros. Já a Álvaro Sobrinho mais de 400 milhões de euros e a Hélder Bataglia 33 milhões de euros.
Um relogio de 400 mil euros, quantos apartamentos não davam para pessoas que não tem casa……..