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Estudo revela que os cães podem servir de “alerta” contra doenças oncológicas

Carlos Barroso / Lusa

Um estudo realizado por uma investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluiu que os cães, ao partilharem com um humano a mesma “exposição ambiental”, podem servir de “alerta” para o surgimento de doenças oncológicas.

Segundo a investigadora do ISPUP Katia Pinello, o estudo – desenvolvido desde 2013 no âmbito de uma bolsa de doutoramento – avaliou a relação do linfoma não-Hodgkin (cancro que começa nos linfócitos, células que fazem parte do sistema imunitário) em humanos e em caninos da área do Grande Porto, avançou o JN na segunda-feira.

“Este estudo evidencia que onde há o cancro humano, também há o similar cancro canino, ou seja, eles têm uma correlação espacial, que pode evidenciar um fator de exposição ambiental”, explicou a investigadora do Departamento de Saúde Pública Veterinária do ISPUP, a propósito do Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, assinalado a 04 de fevereiro.

O estudo, publicado recentemente na revista “The Veterinary Journal”, reuniu informações sobre 1242 humanos e 504 cães, concluindo que o Porto, Matosinhos e a Maia são as zonas que apresentam mais casos.

“Sabemos que 70% dos cancros são provocados por fatores ambientais. O nosso estudo comprova que há uma correlação e que pode existir um fator externo tanto no cão, como no homem. Mas, são necessários estudos de causalidade”, frisou Katia Pinello.

Além de evidenciar a correlação espacial, o estudo, que avaliou as características e semelhanças epidemiológicas, destaca a incidência do linfoma não-Hodgkin nos homens e machos, contrariamente ao panorama entre as mulheres e fêmeas.

“Tal como nos humanos a maior prevalência dos linfomas é nos homens, isso também se sucedeu nos cães. Já nas mulheres, o linfoma aparece tardiamente. Em contrapartida, nas cadelas aparece mais cedo, quando ainda são jovens. É uma diferença interessante, que recai provavelmente pela prática da esterilização”, sublinhou ainda a investigadora.

De acordo com Katia Pinello, esta investigação realça a importância do conceito “One Health” (uma saúde, em português). “O estudo é uma chamada de atenção e queremos inseri-lo no âmbito do quadro do “One Health”, porque queremos tratar a saúde humana, animal e ambiental como apenas uma, na medida em que está tudo interligado”.

Em declarações à agência Lusa, Katia Pinello revelou que pretende agora “aumentar a colheita de dados” veterinários, de modo a conseguir fazer “uma rede de observação” para outras neoplasias e doenças.

“Esta rede vai permitir monitorizar e alargar os estudos, e perceber também se em outras doenças existe esta correlação, para assim podermos criar sistemas de alerta”, disse.

TP, ZAP //

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