Os resultados das eleições nos Estados Unidos podem ser decididos no Canadá

1

ZAP // Gace Skidmore / Flickr; NightCafe Studio

Mais de 600 mil eleitores norte-americanos vivem no Canadá, com muitos a ter ligações aos estados decisivos do rust belt. A campanha Democrata tem batido às portas dos emigrantes perto da fronteira.

À medida que se aproximam as eleições presidenciais de 2024 nos EUA, os Democratas estão a intensificar os seus esforços para mobilizar os eleitores americanos que vivem no estrangeiro, em particular no Canadá.

O Programa Federal de Assistência ao Voto do Departamento de Defesa dos EUA estima que há mais de 600 mil americanos em idade de votar a viver no Canadá.

Bruce Heyman, antigo embaixador dos EUA no Canadá durante o mandato de Obama, está a liderar uma campanha para levar estes eleitores às urnas. Heyman acredita que os americanos que vivem no Canadá podem ser um fator decisivo na eleição, especialmente nos estados muito disputados como Wisconsin, Pensilvânia e Michigan — estes dois últimos estados inclusive fazem fronteira com o Canadá.

A recente acusação de Trump nas redes sociais em que alegou que os Democratas estavam a preparar-se para fazer batota com os votos enviados pelo correio pelos eleitores no estrangeiro foi vista por Heyman como uma admissão tácita de que os Republicanos reconhecem a potencial influência dos americanos no estrangeiro.

“Acredito do fundo do coração que os americanos que vivem no Canadá podem determinar o resultado desta eleição”, explica Heyman em declarações ao Politico.

Esse esforço faz parte de uma estratégia mais ampla dos Democratas para garantir que todos os americanos elegíveis no exterior possam votar, especialmente aqueles que residem nas cidades fronteiriças do Canadá. Nestas áreas reside um número significativo de eleitores que têm laços com os estados decisivos, quer através da sua história pessoal, quer através das suas deslocações regulares pela fronteira.

Um dos aspetos mais marcantes da campanha dos Democratas é a campanha de porta a porta que está a decorrer em Windsor, Ontário, uma cidade fronteiriça adjacente a Detroit, Michigan. Liderados por ativistas como Steve Nardi, dos Democratas no Estrangeiro, estes esforços centram-se em chegar aos eleitores americanos em áreas com elevada concentração de emigrantes.

“Isto tem sido um sonho meu”, disse Nardi, referindo-se à estratégia de prospeção ao nível do terreno. Apesar de a equipa de voluntários ser pequena, já bateram a mais de mil portas, com o objetivo de encorajar os americanos no Canadá a votar em estados críticos como o Michigan, onde os seus votos podem fazer pender a balança.

Os esforços dos Democratas não se limitam a Windsor. Estão também a visar os estudantes americanos em universidades canadianas, como a Universidade McGill, em Montreal, onde Heyman e a sua mulher Vicki falaram recentemente a um grupo de estudantes americanos, muitos dos quais não estavam conscientes das potenciais consequências de uma segunda presidência de Trump. Heyman alertou para o facto de as políticas de Trump, incluindo tarifas e restrições à imigração, poderem afetar significativamente os americanos que vivem no estrangeiro.

A aposta de Heyman no poder do voto dos americanos no Canadá deriva da sua experiência nas eleições de 2016, em que Hillary Clinton perdeu o Michigan por uma margem estreita de 10 704 votos. O ex-embaixador acredita que o facto de muitos americanos que vivem no estrangeiro não saberem que podiam votar ou não terem a certeza de como o fazer influenciou este resultado.

Desde então, Heyman e a sua equipa têm trabalhado para simplificar o processo de votação, criando ferramentas não partidárias para ajudar os cidadãos que vivem no Canadá a navegar nas complexidades da votação a partir do estrangeiro.

Os seus esforços valeram a pena na eleição de 2020, onde o número de votos emitidos por americanos que vivem no exterior aumentou 73% em comparação com 2016.

Apesar da incerteza em torno do número exato de eleitores americanos no Canadá e das suas inclinações políticas, há provas que sugerem que apoiam esmagadoramente os Democratas. Por exemplo, quase todas as doações de cidadãos americanos residentes no Canadá foram para a campanha Biden-Harris.

Com milhões de eleitores americanos a viver no estrangeiro, o esforço para os levar às urnas poderá, de facto, tornar-se decisivo para o futuro dos EUA e do mundo.

Adriana Peixoto, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

1 Comment

  1. É claro que Trump vai constestar estes votos – por virem do estrangeiro. Além de muitos outros por qualquer motivo que já está preparado. Trump até pode perder as eleições (outra vez) em votos expressos, mas vai ganhar a Casa Branca – nem que seja à força. O que é pena.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.