De modo semelhante ao código de barras de um produto no supermercado, a partir do qual é possível identificá-lo e obter informações, uma iniciativa que abrange cientistas de todo o mundo visa padronizar a identificação de espécies utilizando o chamado DNA Barcoding.
DNA Barcoding é um método em que uma espécie de código de barras é criado a partir de um pequeno trecho de DNA, extraído de uma região padronizada do gene.
A ideia de um dos proponentes desta técnica, o cientista Paul Hebert, é tornar o processo de identificação das espécies mais rápido e formar uma base de dados de toda a biodiversidade mundial, disponível para consulta por qualquer pessoa.
“O uso de sequências de DNA na taxonomia não é novo, mas a ideia do barcoding é o sequenciamento do mesmo trecho de DNA. Até agora cada grupo utilizava uma região diferente do genoma, o que tornava difícil fazer comparações”, conta Mariana Cabral de Oliveira, professora do Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo e uma das investigadoras participantes do International Barcode of Life (iBOL).
O consórcio internacional já é uma realidade e mobiliza investigadores de diversos países. A base de dados do projeto reúne, atualmente, quase três milhões de sequências.
A submissão dessas sequências segue um padrão de qualidade e acompanha também outros dados, como descrições morfológicas, fotografias, e o museu ou herbário onde a amostra foi depositada.
Mariana Oliveira explica que toda sequência registada no banco de dados precisa de estar associada a uma amostra física. “Eventualmente, se alguém não concordar com a identificação feita, é possível, por exemplo, solicitar a amostra e reanalisar o material”.
Além da identificação
“A aplicação do DNA Barcoding é muito mais ampla do que simplesmente descrever a biodiversidade”, conta a professora.
Uma das principais aplicações do uso do banco de dados com as sequências genéticas é facilitar a identificação de novas espécies: caso um investigador se encontre diante de uma espécie que não sabe identificar, pode extrair o seu DNA e compará-lo, na base de dados, com outras sequências.
O cientista fica assim a saber se a espécie já foi identificada por outro investigador e, caso não encontre a sequência correspondente, poderá investigar se a espécie apenas não foi registada ou se está perante uma nova espécie.
Outra aplicação importante do DNA Barcoding é a possibilidade de avaliar se um alimento que está a ser vendido corresponde ao publicitado.
No caso dos peixes, por exemplo, após o corte em postas ou processamento, é difícil identificar de que peixe se trata.
O mesmo acontece com as madeiras: utilizando o Barcoding, pode-se verificar se determinada madeira pertence a uma espécie de árvore cuja extração seja proibida.
Em suma, com o DNA Barcoding, vai ser mais fácil perceber que a lebre é gato.
ZAP / USP