Disney e governo francês em rota de colisão. Filmes podem deixar de ser exibidos nos cinemas do país

Em causa está o tempo que os estúdios têm de esperar antes de disponibilizar os seus filmes nas plataformas de streaming.

A Disney vai disponibilizar o filme Black Panther: Wakanda Forever nas salas de cinema francesas no próximo mês, mas deixou o aviso de que futuros sucessos cinematográficos poderão ir diretamente para o seu serviço de streaming, Disney+, caso o governo França não flexibilize as regras de distribuição de filmes.

Há meses que se especulava sobre a possibilidade de o estúdio de Hollywood poderia contornar as salas de cinema com este lançamento, um dos mais aguardados desde a pandemia, como forma de pressionar o governo francês a reformar as suas regras de distribuição altamente restritivas. À luz das regras francesas, após o lançamento do filme no grande ecrã, a 9 de novembro, a Disney não poderá disponibilizá-lo aos assinantes franceses da Disney+ até abril de 2024.

Os subscritores terão então acesso ao filme durante apenas cinco meses, período após o qual não está disponível na mesma plataforma até Novembro de 2025, aí sim de forma permanente e  – a menos que seja feito um acordo com uma emissora francesa gratuita – três anos após a sua estreia original.

“Como já dissemos anteriormente, acreditamos que a cronologia é anticonsumo e coloca todos os estúdios em risco acrescido de pirataria, razão pela qual a maioria das partes interessadas concorda que é necessário rever completamente o modelo”, disse um porta-voz da Disney.

No início deste ano, a Disney tomou uma posição contra o sistema francês, concebido para proteger as indústrias nacionais de televisão, disponibilizando a série de ação Strange World diretamente para no Disney+.

Os filmes que não são lançados nos cinemas franceses não estão sujeitos aos regulamentos restritivos do “windowing“. Em janeiro, as autoridades cinematográficas francesas encurtaram a janela entre o lançamento do filme e a disponibilidade nos serviços de streaming por assinatura para 15 meses, mas a Disney não foi signatária do novo acordo.

A Disney revelou não ter avançado já com medidas retaliadoras, como o lançamento do filme diretamente em streaming, porque as autoridades francesas reconheceram que o sistema “precisa de ser modernizado”. A próxima ronda de negociações entre a indústria cinematográfica, televisiva, de streaming e o governo francês deverá ter início em Janeiro. “Continuaremos ativamente empenhados nas próximas reuniões”, disse o porta-voz. “Entretanto, continuaremos a tomar futuras decisões de lançamento, filme por filme“.

Tal como o resto da indústria, os proprietários do cinema francês precisam desesperadamente de mais filmes que se tornem sucessos de bilheteira para impulsionar uma recuperação pós-pandémica, já que a bilheteira destes espaços desceu 30% em relação a 2021 até agora este ano. Ainda segundo o The Guardian, o último mês foi o pior mês de setembro para a venda de bilhetes em 42 anos.

Se a Disney levasse a cabo a sua ameaça de lançar os seus títulos diretamente em streaming a partir do próximo ano, a indústria cinematográfica francesa perderia uma série de potenciais sucessos como Guardiães da Galáxia Vol 3, Indiana Jones 5 ou A Pequena Sereia.

No início deste ano, a Netflix assinou um acordo com representantes de cinema francesas que incluía um investimento mínimo de 40 milhões de euros em pelo menos 10 filmes franceses e europeus ao longo dos próximos três anos – todos eles com lançamento nas salas de cinema francesas – em troca da redução da janela para 15 meses a partir dos 36 meses. Já a Amazon concordou com o prazo de 17 meses.

ZAP //

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