Investigadores decifram enigmática “escrita Kushan”

(dr) Bobomullo Bobomulloev

Inscrição da escrita kushan

Uma equipa do Departamento de Linguística da Universidade de Colónia, na Alemanha, decifrou um sistema de escrita pertencente ao Império Kushan, um dos Estados mais influentes da História da Ásia Central.

A “escrita Kushan” foi utilizada em algumas regiões da Ásia Central entre 200 a.C. e 700 d.C. e é frequentemente associada aos primeiros povos nómadas da estepe eurasiática e à dinastia governante dos Kushans, que fundou o império responsável pela difusão do budismo na Ásia Oriental.

Até agora, são conhecidas várias dezenas de inscrições, na sua maioria curtas e originárias do território dos atuais Estados do Tajiquistão, Afeganistão, Uzbequistão e Afeganistão.

Este sistema de escrita era conhecido desde a década de 1950, mas nunca tinha sido decifrado com sucesso. Na altura, escavações arqueológicas na Ásia Central trouxeram à luz dezenas de inscrições que foram apelidadas de “escritos desconhecidos”, tendo sido estudadas por vários linguistas.

Svenja Bonmann, Jakob Halfmann e Natalie Korobzow, do Departamento de Linguística da Universidade de Colónia, foram alguns deles. Os investigadores examinaram fotografias de inscrições encontradas em grutas, tigelas e recipientes de barro de vários países da região e conseguiram finalmente decifrar o enigma.

De acordo com o Arkeonews, a equipa anunciou, em março, a primeira decifração parcial da “escrita Kushan” sendo que, até ao momento, aproximadamente 60% dos caracteres foram descodificados.

Neste novo estudo, a equipa aplicou uma metodologia baseada na forma como escritas desconhecidas foram decifradas no passado. Graças ao conteúdo conhecido da inscrição bilingue encontrada no Tajiquistão (escrita bactriana e kushan) e da inscrição trilingue do Afeganistão (escrita gandhari ou indo-ariana média, bactriana e kushan), os linguistas conseguiram tirar algumas conclusões.

A descoberta foi finalmente possível graças ao nome real Vema Takhtu, que aparecia em ambos os textos em bactriano, e ao título “Rei dos Reis”, que podia ser identificado nas secções correspondentes da “escrita kushan”.

Passo a passo, e utilizando o texto paralelo bactriano, os linguistas conseguiram analisar outras sequências de caracteres e determinar os valores fonéticos de caracteres individuais.

Segundo os cientistas, a “escrita Kushan” é uma língua do Irão completamente desconhecida, que não é idêntica ao bactriano nem à língua Khotanês Saka, que foi falada no oeste da China.

Ocupa provavelmente uma posição intermédia no desenvolvimento entre estas línguas, podendo ter sido a língua da população do norte da Bactria (numa parte do território do atual Tajiquistão) ou a língua de certos povos nómadas da Ásia Interior (os Yuèzhī), que viviam originalmente no noroeste da China.

Durante um certo período de tempo, terá sido uma das línguas oficiais do Império Kushan, juntamente com o bactriano, o gandhari/indo-ariano médio e o sânscrito.

Como nome preliminar, os investigadores propuseram o termo “eteo-tocariano” para descrever a língua iraniana recentemente identificada.

Estas descobertas surgem no artigo científico recentemente publicado na Transactions of the Philological Society.

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