Estudos mostram que o problema não está no uso em si, mas sim no tempo de uso. Quatro partes fundamentais do cérebro são especialmente afetadas pelo excesso — mas também há (poucos) efeitos positivos.
A exposição prolongada a ecrãs por parte de crianças até 12 anos afeta a formação do seu cérebro.
Apesar de ser possível identificar alguns efeitos positivos, a maioria das evidências aponta para consequências negativas do excesso de ecrãs, alerta revisão sistemática desenvolvida por investigadores da Universidade de Hong Kong (EdUHK).
No estudo, que revisa outras 33 investigações sobre o tema, os cientistas analisaram, e, dados de 30 mil crianças com pelo menos seis meses de idade e com diferentes níveis de exposição a ecrãs na infância.
As áreas do cérebro afetadas
A revisão indica que passar longos períodos a ver televisão, a jogar videojogos ou a usar o tablet tem efeitos mensuráveis no cérebro das crianças. Estes desdobramentos podem ser observados em exames de neuroimagem.
A seguir, confira as quatro áreas do cérebro mais afetadas pelo excesso de ecrãs:
- Córtex pré-frontal: é a base das funções executivas, o que envolve a memória e a capacidade de planear ou responder com flexibilidade a situações;
- Lobo parietal: parte que atua no processamento das sensações, como pressão, calor, frio, dor ou toque;
- Lobo temporal: área fundamental para a memória, a audição e a linguagem;
- Lobo occipital: parte responsável por interpretar as informações visuais.
Na maioria dos estudos analisados, os efeitos do uso excessivo de tecnologia na primeira infância foram considerados negativos.
Uma das investigações aponta que mais tempo de ecrã está associado a uma menor conectividade funcional em áreas do cérebro relacionadas com a linguagem, afetando o desenvolvimento cognitivo.
O efeito no descanso e no sono também se traduz numa das consequências mais perigosas.
Um estudo publicado na Scientific Reports em 2017 indica que cada hora que as crianças com idades compreendidas entre os seis meses e os três anos passam a utilizar aparelhos electrónicos pode significar 15 minutos a menos de sono.
Também há (poucos) efeitos positivos
Por outro lado, os autores identificaram seis estudos que traziam efeitos positivos relacionados com o uso de ecrãs pelas crianças.
É o caso da investigação que sugeriu que ao jogar videojogos as crianças melhoram as funções executivas e as habilidades cognitivas como um todo.
O problema não está no uso em si, mas sim no tempo de uso.
“Tanto os educadores como os cuidadores devem reconhecer que o desenvolvimento cognitivo das crianças pode ser influenciado pelas suas experiências digitais”, afirma Hui Li, investigador da EdUHK e um dos autores do estudo, em nota.
Além de limitar o tempo de uso, o especialista também sugere a criação de estratégias mais inovadoras para aproveitar o uso de ecrãs no desenvolvimento infantil, focando-se nos potenciais positivos.
É importante lembrar que, oficialmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Academia Americana de Pediatria recomendam apenas uma hora de ecrã diária para crianças até aos 5 anos.
ZAP // CanalTech