Obi Mikel rescindiu com o Trabzonspor, o atual líder da liga turca. O jogador acusou o clube de o pressionar a apagar publicações em que criticava o facto de o campeonato não ter sido suspenso.
A liga turca foi, esta quinta-feira, suspensa por tempo indeterminado devido ao surto de Covid-19 no país. “Decidimos, em conjunto, suspender a liga”, informou o Ministro do Desporto turco. O campeonato turco era dos poucos que ainda não tinha sido suspenso.
Ainda assim, ainda antes da suspensão, houve quem tomasse medidas drásticas face à despreocupação nos organismos turcos. Obi Mikel, antigo jogador do Chelsea, rescindiu contrato com o Trabzonspor, o atual líder da liga.
“Eles não querem saber das vidas humanas, não querem saber sobre o que se passa no mundo. Tudo o que querem é ganhar o campeonato. Assinei pelo Trabzonspor no último verão porque queria ganhar a liga, dei 100% em todos os jogos. Mas numa situação como esta, em que o mundo está a enfrentar algo tão complicado, senti que o futebol não devia continuar”, disse Obi Mikel ao jornal britânico The Guardian.
O nigeriano de 32 anos regressou a Londres onde mora a sua família. Através das redes sociais não poupou nas críticas às autoridades do futebol turco por, na altura, ainda não terem suspendido o campeonato. Surpreendentemente, o jogador foi ainda pressionado pelo presidente do clube, Ahmet Agaoglu, que exigiu que o jogador apagasse as publicações.
“Comecei por dizer que não ia apagar a publicação. É a minha opinião, o mundo está a passar por tempos turbulentos e assustadores e as pessoas tem de acordar. Depois, o presidente disse-me que se não apagasse o post que não jogava até ao final da temporada“, revelou, citado pela Tribuna Expresso.
Obi Mikel não apagou as publicações e a promessa começou a ser cumprida. No jogo seguinte, o nigeriano estava fora do onze inicial e foi relegado ao banco de suplentes, embora seja uma das estrelas da companhia.
Os encontros estavam a ser disputados à porta fechada, mas de acordo com o jogador, “havia na mesma risco de transmitir o vírus, há muitas pessoas ali”. “Além disso, não havia motivação, todos os jogadores estavam assustados. Não houve cumprimentos. Nada daquilo parecia certo. E eu disse para comigo que não queria fazer parte daquilo”, acrescentou.
O nigeriano disse também ter receio que as fronteiras dos países fechassem e, consequentemente, ficasse preso na Turquia, longe da família.
Mikel alega ainda que muitos não falam por medo. “Toda a gente na Turquia tinha medo de dizer alguma coisa porque poderiam ser punidos pelos clubes ou porque os adeptos iam ficar contra eles, mas eu senti que tinha de dizer algo. Tive muitas mensagens de jogadores da Turquia que me diziam: ‘Obrigado por teres feito o que fizeste, porque nós não podemos falar. Espero que entendas’. Eles tinham medo de perder o emprego e o salário, é claro que eu percebo”, contou.