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Há 50 anos, avisaram que a civilização humana iria colapsar. Hoje, meio caminho continua errado

Um livro de 1972 deixou o alerta. 50 anos depois, como está esse cenário? Politicamente vê-se uma coisa, culturalmente e vê-se outra.

The Limits to Growth. O livro publicado em 1972 deixava um aviso: a civilização humana poderia colapsar.

A obra da organização Clube de Roma, que foi publicada no dia 2 de Maio de 1972, vendeu cerca de 30 milhões de cópias, em 30 idiomas.

O estudo baseou-se em simulação feita através de computadores (sim, em 1972) e centrou-se em três factores: utilização excessiva de recursos limitados, poluição em larga escala e aumento da população a um ritmo insustentável.

Caso não houvesse cuidados, controlo, sobretudo nestes três aspectos, a civilização humana poderia colapsar em 100 anos.

“O resultado mais provável será um declínio bastante súbito e incontrolável, tanto na população, quanto na capacidade industrial”, lê-se.

Muitas pessoas concordam, muitas discordam. As conclusões, e a própria simulação, têm sido alvo de controvérsia ao longo das décadas.

A mensagem essencial era de que precisamos de viver em equilíbrio com o planeta.

Mas poucos anos depois surgiram mensagens de políticos, líderes de países mais avançados, como Ronald Reagan e Margaret Thatcher, que defendiam (sobretudo Reagan) que não há limites para o crescimento. “Do ponto de vista político, houve uma negação completa do que o livro defendia”.

Os economistas rejeitaram as ideias do estudo e, entre a comunidade científica, muitos ignoraram o livro. Era uma “profecia apocalíptica”.

Carlos Alvarez Pereira, vice-presidente do Clube de Roma, explicou na revista Wired que as simulações mostraram que, na maioria dos casos (não todos), a “população, produção e poluição criariam um cenário de colapso da civilização humana a meio do século XXI”.

O estudo foi “uma tentativa séria e rigorosa de utilizar o melhor, não só do conhecimento, mas também das ferramentas informáticas, que na altura eram bastante primitivas, para simular uma série de cenários para o futuro”.

50 anos depois, novo livro

Limits and Beyond: 50 Years on From The Limits to Growth, What Did We Learn and What’s Next?

Ou seja, a nova obra pergunta o que aprendemos ao longo deste meio século e o que se segue neste contexto.

O próprio Carlos Alvarez Pereira, principal responsável pelo novo livro, responde e explica que a combinação entre população, produção de alimentos, produção industrial, recursos naturais e poluição é o principal factor para o eventual colapso.

Um cenário mais sustentável, de equilíbrio, passa pela equidade: “Gerir os recursos de forma equitativa, sabendo de antemão que são limitados. Perceber que não é um consumo cada vez maior que nos faz viver bem – é ter uma vida saudável e bem-estar, é a qualidade das nossas relações com os outros humanos, com a natureza”.

O autor sublinha que a humanidade tem “capacidades incríveis” para desenvolver novas tecnologias, mas não estão a ser utilizadas para reduzir a pegada ecológica. “E já temos uma pegada ecológica muito alta, em comparação com o que a Terra pode suportar”.

Meio século depois, os recursos finitos continuam a ser demasiado explorados. “Os capitalistas dizem que vamos sempre encontrar outros recursos, que não nos devemos preocupar porque a tecnologia vai salvar-nos. Ainda estamos nessa fase”, lamentou.

E, afinal, 50 anos depois, a humanidade está no caminho certo? “Não. Se olharmos para a realidade, não. Nas decisões políticas, na poluição, na biodiversidade, na desigualdade… Há muitas razões para dizer que não”, respondeu Carlos.

Apesar desse “não”, há optimismo porque está a decorrer uma “mudança cultural, muitas vezes escondida”. Há muita gente a experimentar, a tentar outros caminhos na busca pelo equilíbrio.

E, nas gerações mais jovens, está a verificar-se também uma “grande mudança”.

Resumindo, politicamente o caminho continua a ser errado e, culturalmente, o percurso é mais positivo.

“A revolução humana já está a acontecer — só que não a vemos. E talvez seja bom que ainda não a vejamos; é melhor que só seja visível quando muitas coisas mudarem mesmo”.

ZAP //

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