Investigadores norte-americanos desenvolveram um novo medicamento que revela eficácia no tratamento do cancro da mama triplo-negativo, considerado particularmente agressivo, e com uma redução dos efeitos tóxicos associados.
Este novo medicamento foi desenvolvido por cientistas do Hospital Geral de Massachusetts e do Centro Médico Irving da Universidade de Columbia, nos EUA, e revelou eficácia no combate ao cancro da mama triplo-negativo durante os ensaios clínicos realizados.
No artigo científico publicado no New England Journal of Medicine, os investigadores notam que o medicamento que denominaram Sacituzumab govitecan “é muito promissor em mulheres com cancro de mama triplo-negativo metastático, com uma média de sobrevivência de cerca de 12 meses”.
Este tipo de cancro cresce e dispersa-se de forma mais rápida do que outros que afectam a mama. “As pacientes com cancro da mama tripo negativo metastático têm uma biologia muito agressiva do tumor e as opções de tratamento efectivo são muito limitadas“, constata o investigador Aditya Bardia, médico do Hospital Geral de Massachusetts, citado pelo jornal espanhol El Mundo.
“A quimioterapia tradicional foi associada com taxas baixas de resposta ao tratamento e com uma toxicidade considerável, o que demonstra a necessidade de encontrar melhores opções”, acrescenta Bardia.
É neste cenário que surge o novo “medicamento inteligente” que envia uma carga tóxica directamente para as células com tumores, reduzindo os efeitos tóxicos do tratamento.
Desenvolvido em parceria com a farmacêutica Immunomedics, que financiou a pesquisa, o “cocktail” é constituído por um anticorpo e por um medicamento utilizado na quimioterapia (irinotecano, SN-38). O anticorpo identifica a proteína do cancro de mama e envia o SN-38 directamente para a célula cancerosa.
A quimioterapia convencional só demonstrou resultados em 15% dos casos e com uma resposta que dura apenas entre dois a três meses. Já o novo medicamento demonstrou resultados em 33% das pacientes, com uma duração de 7,7 meses.
Este “cocktail inteligente” permite “fornecer uma dose muito mais alta, uma vez que o fármaco é enviado directamente para as células cancerosas”, explica o oncologista Kevin Kalinsky do Hospital Presbiteriano de Nova Iorque, em declarações divulgadas pelo El Mundo.
Os resultados dos testes clínicos revelaram “uma redução significativa do tumor e o atraso na progressão do cancro em comparação com outros medicamentos comummente utilizados para o tratamento deste tipo de tumor metastático”, realça Kalinsky.
Nos ensaios clínicos feitos com 108 mulheres, o cancro deixou de avançar em nove casos durante mais de um ano.
O medicamento apresenta efeitos secundários como “náuseas, diarreia e perda de cabelo, mas não causou neuropatia, adormecimento e formigueiro que podem ser muito dolorosos e, inclusive, limitantes para as pacientes”, explica Kalinsky.
Para já, o Sacituzumab govitecan ainda está em estado experimental, à espera da aprovação da Agência Americana do Medicamento (FDA na sigla original em Inglês) que, recentemente, rejeitou atribuir-lhe a devida licença como tratamento para o cancro de mama.
Mas a Immunomedics está confiante de que a legalização do medicamento não tardará, acreditando no seu potencial como “uma opção de tratamento viável”, conforme constata em comunicado. A farmacêutica sublinha ainda que está a trabalhar com a FDA para conseguir “levar este medicamento importante para os pacientes o mais rapidamente possível”.