Já sabemos como uma civilização perdida prosperou no Saara durante séculos

Os Garamantes tinham um sistema engenhoso para armazenarem a água subterrânea e conseguirem viver no ambiente árido do deserto.

Novas pesquisas revelam pistas fascinantes sobre como o antigo Império Garamante conseguiu prosperar em condições áridas, semelhantes às atuais, no deserto do Saara.

O estudo, apresentado na reunião GSA Connects 2023 da Geological Society of America, demonstra como esta civilização usou de forma engenhosa o armazenamento de água subterrânea para sustentar a sua sociedade durante cerca de um milénio.

O Saara, conhecido pelas suas condições extremas de calor e escassez de água, não foi sempre assim. Entre há 11.000 e 5.000 anos, as chuvas das monções transformaram o deserto numa região comparativamente fértil.

No entanto, após a cessação das monções, o Saara voltou a ser um deserto, levando ao recuo das civilizações que lá habitavam. A exceção notável foram os Garamantes, que lá viveram entre 400 a.C. e 400 d.C.

Segundo Frank Schwartz, professor na School of Earth Sciences da Ohio State University e autor principal do estudo, os Garamantes beneficiaram de uma série de fatores ambientais favoráveis.

A civilização usou uma tecnologia conhecida como foggara ou qanat para extrair água de um dos maiores aquíferos de arenito do mundo. Esta técnica consiste em escavar um túnel ligeiramente inclinado numa encosta, chegando um pouco abaixo do lençol freático, o que permitia que a água subterrânea fluísse pelo túnel e alimentasse os sistemas de irrigação.

Schwartz integrou uma equipa que fez investigações arqueológicas anteriores com análises hidrológicas para entender como as condições hidrogeológicas ideais foram alcançadas. “Os qanats na Pérsia têm recarga anual de água proveniente do derretimento da neve, e aqui havia zero de recarga”, diz ele.

O estudo serve como um aviso sobre a exploração insustentável de recursos hídricos subterrâneos. À medida que os ambientes extremos se tornam mais comuns globalmente, a exploração excessiva de águas subterrâneas coloca em risco a sustentabilidade das civilizações. O exemplo dos Garamantes mostra que a água subterrânea, apesar de parecer uma fonte inesgotável, pode de facto esgotar-se, levando ao colapso de uma sociedade inteira.

“Se a propensão para anos mais secos continuar, a Califórnia acabará por enfrentar o mesmo problema que os Garamantes“, adverte Schwartz, reforçando a necessidade de uma gestão mais responsável dos recursos hídricos subterrâneos.

ZAP //

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