China está a “acelerar planos” para a reunificação com Taiwan, alerta Secretário de Estado dos EUA

Brookings Institution / Flickr

Antony Blinken, Secretário de Estado norte-americano

Antony Blinken acredita que Pequim está a planear a reunificação num futuro breve e alerta para o impacto global que um conflito teria devido à interrupção das trocas comerciais que passam pelo estreito de Taiwan.

O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, alertou para o risco da escalada de tensão entre a China e Taiwan, considerando que o Governo de Xi Jinping está a “acelerar os planos” para anexar a ilha.

Os comentários de Blinken surgem na mesma semana em que o Partido Comunista Chinês está a realizar um Congresso, que acontece apenas duas vezes numa década e é o evento mais importante dentro das estruturas partidárias.

Numa conferência na Universidade de Stanford esta segunda-feira, Blinken afirmou que a China está a mudar a sua abordagem e que a paz vivida na região nas últimas décadas pode ter os dias contados.

“Em vez de manter o status quo que foi estabelecido de uma forma positiva, Pequim tomou a decisão fundamental de entender que o status quo já não é aceitável, e Pequim está determinado a acelerar os planos para a reunificação”, considera.

O responsável norte-americano alerta para a criação de “tensões tremendas“. “Se os meios pacíficos não funcionam, estão vão avançar com meios coercivos e possivelmente se os meios coercivos não funcionarem, então talvez usem meios violentos para alcançarem o seu objectivo. É isso que está a abalar profundamente o status quo“, antecipa, citado pelo The Guardian.

Blinken também se mostrou preocupado com o que um conflito no estreito de Taiwan pode significar para o resto do mundo. “A quantidade de comércio que é feito através do estreito todos os dias tem um impacto enorme na economia global. Se isso fosse interrompido como um resultado de uma crise, os países iriam sofrer”, afirma, alertando ainda para o impacto económico em todo o mundo caso a produção de semicondutores em Taiwan fosse abalada devido a um conflito.

Em declarações aos jornalistas após o evento, o Secretário de Estado declarou que a guerra na Ucrânia marcou o fim da “era pós-Guerra Fria” e que a tecnologia é agora o que define a competição entre as superpotências.

“Estamos num ponto de inflexão. A tecnologia vai de muitas formas reequipar as nossas economias. Vai reformar os nossos exércitos. Vai moldar as vidas das pessoas em todo o planeta. É uma fonte profunda de força nacional”, remata.

A análise ao discurso de Xi

Nos últimos tempos, a tensão entre Taiwan e a China tem subido, com Pequim a aumentar as incursões que faz sobre o espaço aéreo da ilha, com o Governo de Taipei a descrever a situação como a “mais tensa dos últimos 40 anos” e até a apontar que os chineses querem invadir o território até 2025.

Apesar de a China nunca ter deixado de reconhecer Taiwan como território seu, as previsões sobre quando o país planeia avançar com a reunificação variam de acordo com as fontes — os EUA e Taiwan antecipam um ataque nos próximos anos, mas há analistas que estimam que a anexação só deve acontecer até 2049, quando se assinala o centenário da República Popular da China.

No seu discurso de abertura do evento no domingo, Xi Jinping voltou a deixar claro que a reunificação com Taiwan é uma das suas prioridades e está no centro dos seus planos para o “rejuvenescimento” da China.

O líder chinês também repetiu a palavra “segurança” cerca de 70 vezes e o discurso, ao contrário do normal nos Congressos do partido, parecia mais dirigido à comunidade internacional do que ao público interno.

“A segurança nacional é a fundação do rejuvenescimento nacional”, afirmou Xi Jinping, acrescentando que a reunificação “definitivamente deve ser alcançada e definitivamente vai ser alcançada” e que a China está a trabalhar numa modernização rápida das suas tecnologias e pessoal militar.

Alguns analistas encaram as menções imediatas a Taiwan no discurso como um sinal de que a reunificação com a ilha é uma prioridade crescente do Governo, enquanto outros sugerem que não há indícios disso e que Xi Jinping apenas manifestou a sua frustração com a “interferência estrangeira” num assunto que considera apenas dizer respeito à China.

Esta frustração chegou a um pico este ano com a visita de Nancy Pelosi, a Presidente da Câmara dos Representantes, a Taiwan, com a China a encarar a ida como uma provocação e um sinal de que os Estados Unidos estavam a mudar a sua postura tipicamente mais ambígua em relação a Taiwan — onde defendem a “política de uma China única”, mas não reconhecem oficialmente a ilha como parte da China.

Pequim fez incursões aéreas sobre a ilha e até ameaçou abater o avião onde Pelosi seguisse. A visita também abriu fendas entre Pelosi e a Casa Branca, já que Joe Biden não concordou com a decisão da Democrata veterana, que tem sido uma forte crítica da China desde o início da sua carreira política.

Mesmo assim, Biden já deixou claro publicamente que os Estados Unidos enviarão tropas para defender Taiwan caso a China invada a ilha.

Adriana Peixoto, ZAP //

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