Carneiro reúne-se com líderes da PSP e GNR. 300 polícias protestam em frente ao Ministério

6

António Pedro Santos / LUSA

O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro

O ministro da Administração Interna mandou abrir um inquérito urgente aos acontecimentos relacionados com o jogo de futebol Famalicão-Sporting, e convocou para domingo uma reunião com os responsáveis máximos da PSP e GNR.

O ministro, José Luís Carneiro, determinou a abertura de um inquérito urgente, por parte da Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI), aos acontecimentos que respeitam ao policiamento, pela PSP, do jogo Famalicão – Sporting, da Primeira Liga de futebol, “em especial dos que se reportam a generalizadas e súbitas baixas médicas apresentadas por polícias”.

A informação do Ministério, divulgada esta noite, surge na sequência do adiamento do encontro Famalicão-Sporting, depois de os responsáveis concluírem que não existiam condições de segurança.

A Direção Nacional da PSP explicou que houve um número anormal de agentes com baixa médica, pelo que o jogo teve de ser adiado.

A PSP adianta que, “antes do início do policiamento ao evento, um número não habitual de polícias informaram que se encontravam doentes, comunicando baixa médica”.

“A PSP prontamente acionou meios policiais de outras unidades de polícia, meios esses que também vieram a comunicar situações de indisposição, com deslocação para unidades hospitalares”, lê-se num comunicado da força de segurança.

No comunicado do Ministério desta noite informa-se também que o ministro determinou à IGAI a abertura de um inquérito sobre declarações de um responsável sindical relativas à atividade da PSP no contexto dos próximos atos eleitorais, nomeadamente a possibilidade de estar em causa o transporte de urnas de votos.

Numa entrevista à estação televisiva SIC Notícias o presidente do Sindicato Nacional da Polícia disse que não só os jogos de futebol estão em risco como também podem estar as eleições legislativas, porque são os polícias que transportam as urnas de voto.

Forças da PSP e da GNR têm participado em ações de protesto nas últimas semanas, exigindo melhores condições salariais.

José Luís Carneiro convocou o Diretor Nacional da PSP e o Comandante-Geral da GNR para uma reunião no domingo às 09:00 no Ministério da Administração Interna.

300 polícias protestam à porta da reunião

Cerca de 300 polícias reuniram-se em frente ao Ministério da Administração Interna, em Lisboa, em apoio aos responsáveis da PSP e GNR que estão reunidos com o ministro esperando que deste encontro “saia alguma luz”.

Maioritariamente vestidos de negro e sem quaisquer cartazes, as cerca de três centenas de polícias concentraram-se, tranquilamente, no Terreiro do Paço, naquele que Humberto Alvão, do Sindicato Unificado da Polícia, classificou como um “movimento espontâneo”.

“Estamos aqui em apoio ao comandante da GNR e ao diretor nacional da PSP. Espero que se faça luz e que saia daqui alguma coisa positiva. Não perspetivo nada de negativo porque não fizemos nada ilegal”, afirmou Humberto Alvão aos jornalistas.

De acordo com o sindicalista, a situação que os profissionais mais contestam em relação à atuação do Governo é “a ausência de palavras por parte do primeiro-ministro, António Costa, e do ministro da administração Interna, José Luís Carneiro.

“Acabam por vir só com ameaças, em vez de palavras de apoio. Já deixámos bem claro que não vamos parar enquanto não virmos a situação resolvida. As manifestações estão a aumentar, isso é claro. Torna-se difícil e incompreensível o silêncio do primeiro-ministro e do ministro da administração interna”, apontou.

Os elementos PSP e da GNR exigem um suplemento idêntico ao atribuído à Polícia Judiciária, estando há mais de três semanas em protestos numa iniciativa de um agente da PSP em frente à Assembleia da República, em Lisboa, que depois se alargou a todo o país.

A plataforma que congrega sindicatos e associações das forças de segurança escreveu ao primeiro-ministro sobre a “situação limite” dos profissionais que representam, alertando para um eventual “extremar posições” perante a “ausência de resposta” do Governo.

Em ofício datado de sábado e enviado na sexta-feira, a Plataforma dos Sindicatos da Polícia de Segurança Pública (PSP) e Associações da Guarda Nacional Republicana (GNR) transmite a António Costa que “os polícias chegaram ao limite, podendo desesperadamente extremar posições, como as que estão a desenvolver-se por todo o país”.

Manifestando “preocupação (…) quanto ao que poderá provir daqui em diante”, a plataforma, que, até aqui, “conseguiu manter a ação reivindicativa dentro dos limites da lei”, realça agora que “não tem condições de enquadrar” todas as formas de protesto, antecipando que estas “atingirão proporções indesejáveis”.

Recordando que todos os responsáveis “foram informados e devidamente alertados”, a plataforma considera que “nada do que possa acontecer poderá ser visto com surpresa pelo poder político”.

A PSP indicou, na sexta-feira, que polícias de vários comandos do país tentaram entregar as armas de serviço como forma de protesto e avançou que existe “um número de baixas médicas superior ao habitual” entre os agentes.

Num esclarecimento sobe as ações de protesto por parte dos polícias, a direção nacional da PSP dá conta que em determinadas subunidades de diferentes Comandos Territoriais de Polícia existiram “algumas situações em que polícias, ao entrar de serviço, solicitaram para entregar a sua arma de serviço”, mas “tais ações não foram concretizadas”.

“Atendendo ao plasmado no Estatuto Disciplinar da PSP, os polícias têm que observar as normas legais e regulamentares e as instruções de serviço emanadas pelos superiores hierárquicos, bem como tomar conta de quaisquer ocorrências integradas na esfera da sua competência e utilizar com prudência todos os bens e equipamentos que lhes forem distribuídos ou confiados no exercício das suas funções ou por causa delas, pelo que tais ações não foram concretizadas”, precisa a PSP.

// Lusa

6 Comments

  1. Finalmente alguém, no caso o Ministro do MAI, admite e refere sem rodeios, a existência de grupos extremistas no seio das forças de segurança. (e não só, digo eu).
    Como dizia Zeca Afonso, “quando a serpente tem sede, cortar-se logo a cabeça” .
    Considerando embora o sentido figurado da expressão, reitero : a serpente é já – e há muito – um pequeno monstro de preocupante tamanho, o suficiente para balizar com linhas vermelhas, demasiadas vezes adiadas.
    Esperamos que seja desta vez.
    Tem que ser desta vez
    E para quem não gostar, deixo a sugestão, na medida exata da liberdade que proclamam.
    Na estiva, há sempre lugar para novos candidatos.

    Espero e aguardo a publicação deste comentário, aí contrário de uns quantos.
    Tivemos 47 anos de ditadura, temos 50 de construção da democracia, que recua e vacila, a cada gesto saudosista.

  2. Já te candidatas-te a algum cargo de polícia? Quando isso acontecer, e passares a desempenhar as funções e a receber o que os agentes recebem. Pode falar.

  3. A PJ tem uma função de risco indireta, mas a PSP e a GNR tem uma função de risco direta e imediata, eles andam na rua, enfrentam os criminosos, vão prender os criminosos, eramos um país dos mais seguros, e agora estamos entre os mais violentos, os mais corruptos. Em vez de se investir na segurança, dar poder às forças de segurança damos aos criminosos e corruptos. É uma vergonha.

  4. O que não percebo é porque os polícias e guardas devem ter um subsidio de missão ou risco ou lá o que é. Quando alguém se candidata às forças de segurança sabe ao que vai, acho eu – não se candidatam a cavar batatas ou apanhar laranjas, nem a trabalhar sentados a uma secretária em frente a um computador. A sua missão é serem polícias ou guardas, porque raio hão-de ter um subsídio? O deviam ter era um salário base condigno, decente. Mas em Portugal, por causa dos impostos, há esta mania dos complementos, subsídios, ajudas de custo e diabo a sete…

  5. E, talvez seja essa ligação inaceitável, por parte de forças de segurança, à `serpente” que tenha levado a este beco sem saída!
    Eu, enquanto cidadão não aceito que as forças de segurança do meu pais trabalhem a soldo de quem quer que seja, muito menos de movimentos extremistas tenham eles a cor que tiverem!! Foi para isto que, há 50 anos, aconteceu a revolução dos cravos!? Tenhamos vergonha e respeito por quem a realizou !!

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.