Bruxelas revê em alta previsões do crescimento económico português — mas inflação segue a mesma tendência

Mário Cruz / Lusa

Portugal é, a par da Irlanda, o país com a terceira maior taxa de crescimento este ano entre os pares da zona euro.

A Comissão Europeia está ligeiramente mais otimista sobre o crescimento da economia portuguesa, melhorando em 0,2 pontos percentuais as projeções de crescimento para 5,5% este ano e para 2,6% em 2022, segundo as previsões macroeconómicas de inverno hoje divulgadas.

De acordo com as projeções conhecidas hoje, Bruxelas vê o Produto Interno Bruto (PIB) a crescer 5,5% este ano e 2,6% no próximo ano, quando no outono antecipava uma expansão de 5,3% este ano e de 2,4% em 2023.

A previsão de Bruxelas para este ano alinha com a estimativa do Governo, que prevê uma expansão do PIB de 5,5% ou mais, e coloca o crescimento acima dos 4% previstos para a zona euro e para a União Europeia.

Já no que respeita à inflação, a Comissão reviu em alta de 0,6 pontos percentuais a taxa de inflação para Portugal para 2,3% este ano, mas abaixo dos 3,5% previstos para a zona euro. Segundo as previsões intercalares, a taxa de inflação em Portugal deverá subir de 0,9% em 2021 para 2,3% este ano, antes de moderar para 1,3%.

Estes dados comparam com as previsões para a zona euro, com o executivo comunitário a projetar um pico de 3,5% este ano, recuando para 1,7% em 2023.

A zona euro está também em contra ciclo comparativamente com Portugal, no que respeita ao crescimento. De facto, Bruxelas reviu em ligeira baixa o crescimento da economia europeia para este ano, para 4% do Produto Interno Bruto (PIB), tanto na zona euro como na UE, devido ao abrandamento no inverno provocado pela variante Ómicron.

Depois de, há três meses, nas previsões de outono, ter antecipado um crescimento do PIB de 4,3% este ano quer no espaço da moeda única, quer no conjunto do bloco, o executivo comunitário estima agora, nas previsões intercalares de inverno hoje publicadas, um crescimento de 4% em ambos os casos, projetando que em 2023 o ritmo desacelere para 2,7% na zona euro e 2,8% na UE.

Em contrapartida, Bruxelas revê em ligeira alta o ritmo de crescimento económico no ano passado, já que no outono estimava que a zona euro e a UE ‘fechassem’ 2021 com uma subida do PIB de 5,0% , apontando agora que se verificou “uma notável expansão” de 5,3% tanto no espaço da moeda única como no cômputo dos 27 Estados-membros.

A Comissão Europeia justifica a revisão em baixa do ritmo de retoma da economia europeia este ano com o “ressurgimento da pandemia no outono passado e a propagação exponencial da nova variante Ómicron”, que provocou designadamente uma vaga de “ausências do local de trabalho sem precedentes em muitos países da UE”.

Bruxelas nota também que os Estados-membros viram-se forçados a reintroduzir restrições, “embora geralmente de natureza mais branda ou mais direcionada do que em vagas anteriores”, e aponta que “os persistentes estrangulamentos logísticos e de fornecimento, incluindo a escassez de semicondutores e alguns produtos metálicos, continuam a pesar na produção, tal como os elevados preços da energia”.

“A economia da UE entrou no novo ano com um registo mais fraco do que o anteriormente projetado”, assume Bruxelas, que, no entanto, acredita que, “após um período de abrandamento, a expansão económica deverá recuperar o ritmo no segundo trimestre deste ano e manter-se robusta ao longo do horizonte de previsão”.

“Após uma forte recuperação de 5,3% em 2021, prevê-se agora que a economia da UE cresça 4,0% em 2022, tal como na zona euro, e 2,8% em 2023 e 2,7% na zona euro”, antecipa o executivo comunitário, admitindo que “esta previsão pressupõe que o impacto na economia causado pela atual vaga de infeções será de curta duração e que a maioria dos estrangulamentos de abastecimento se desvanecerão no decurso do ano”.

Por fim, a Comissão Europeia indica que estas previsões económicas de inverno estão rodeadas de riscos, quer positivos, quer negativos. Entre os riscos positivos, aponta o impulso à atividade económica que pode ser dado pelos investimentos na Europa financiados pela ‘bazuca’ do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, enquanto entre os riscos negativos destaca “as tensões geopolíticas no Leste da Europa”, aludindo à crise entre Rússia e Ucrânia.

“Múltiplos ventos adversos arrefeceram a economia europeia neste inverno: a rápida propagação da Ómicron, um novo aumento da inflação impulsionado pelo aumento dos preços da energia e ruturas persistentes nas cadeias de abastecimento. Sendo previsível que estes ventos de se dissiparão progressivamente, esperamos que o crescimento retome a sua velocidade já nesta primavera”, ainda que “a incerteza e os riscos permaneçam elevados”, comentou o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni.

João Leão: previsões “reforçam perspetivas positivas para recuperação da economia portuguesa”

O ministro das Finanças, João Leão, destaca que as previsões da Comissão Europeia “reforçam as perspetivas positivas para a recuperação da economia portuguesa” este ano. “Os dados hoje divulgados pela Comissão Europeia reforçam as perspetivas positivas para a recuperação da economia portuguesa em 2022”, disse hoje João Leão, num comentário enviado à Lusa.

O ministro de Estado e das Finanças salienta que, “apesar da pandemia ainda não estar completamente ultrapassada, a Comissão revê em alta o crescimento do país para este ano, em linha com as últimas estimativas oficiais do Governo, reforçando a credibilidade que Portugal alcançou junto das instituições internacionais”.

João Leão sublinha que “esta revisão ocorre num contexto de desemprego em mínimos dos últimos 19 anos (5,9% em dezembro de 2021) e com o emprego 1,5% acima do nível pré-pandemia”.

“Estas são boas notícias para Portugal e para os portugueses, que podem confiar numa recuperação plena nos próximos anos, alicerçada numa implementação célere e eficaz do PRR”, frisou o ministro.

João Leão assinala que a Comissão Europeia reviu em alta a previsão de crescimento para a economia portuguesa em 2022, “ao contrário do que sucedeu para a área do euro e a União Europeia”, e que a previsão para Portugal é “uma das taxas mais elevadas da UE (o terceiro maior da UE) e 1,5 p.p. acima da média europeia“.

“No conjunto de 2022 e 2023, a Comissão estima que Portugal cresça 8,2%, mais de um ponto acima tanto da área do euro como da União Europeia”, concluiu.

// Lusa

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