Desaparecimento da supergigante vermelha ocorre esta madrugada e é melhor visível longe da costa sul algarvia e a sul de Aljustrel. Se o tempo ajudar, pode assistir ao fenómeno e contribuir para o conhecimento sobre a estrela e sobre o “mágico” que a vai fazer desaparecer.
Na noite desta segunda-feira, de 11 para 12 de dezembro de 2023, às 01:16 da manhã, Betelgeuse, uma das estrelas mais brilhantes da constelação de Orionte, vai parecer escurecer durante alguns segundos — em Portugal unicamente para observadores no Algarve e na metade sul do Alentejo.
Este fenómeno deve-se a um asteroide, chamado 319 Leona, com tamanho pouco conhecido, que irá passar entre esta estrela e a Terra, recriando uma espécie de eclipse.
Caso a meteorologia o permita, o CCVAlg convida a tentar ver a estrela a “desaparecer” durante poucos segundos. Se for bem realizado, poderá estar a colaborar diretamente com os cientistas que utilizarão estas informações.
A participação pode ocorrer de uma das seguintes formas:
- observe visualmente, cronometrando os momentos em que a estrela “apaga” e “acende”;
- registe o fenómeno em vídeo no seu telemóvel ou com a sua máquina fotográfica.
Que informação podemos retirar ao observar?
De uma maneira simplista podemos pensar que:
- A duração do eclipse dá informação sobre o tamanho do asteroide 319 Leona. Neste momento, as estimativas do tamanho estão entre 50 a 60 quilómetros. Mas sabe-se que a “sombra” do asteroide percorrerá 1 km em cerca de 0,19 segundos. Um vídeo da ocultação promete assim conhecer em muito detalhe esta dimensão;
- Os instantes precisos de tempo em que começa e termina o eclipse dão informação da forma do asteroide e posição da estrela no céu. Estando o tempo intimamente ligado à posição que conhecemos das estrelas, muitos observadores espalhados em diferentes locais permitem conhecer a silhueta do asteroide pela diferença de tempos em que cada um observa o eclipse;
- A maneira como o eclipse modifica a quantidade de luz que chega até cá fornece-nos informação sobre a forma da estrela, fenómenos na superfície ou em torno da própria. Betelgeuse (alpha Orionis) não é uma estrela verdadeiramente pontual e, sendo uma gigante vermelha, tem uma superfície difusa e difícil de determinar. Mas o movimento da passagem de um asteroide opaco, diante da estrela, funciona como uma sonda para decifrar o que verdadeiramente lá se passa.
Estas informações podem ser obtidas com equipamento comum caso o registo em vídeo seja bem cuidadoso.
Como podemos observar?
Em função da maneira como escolhemos participar nesta observação, devemos proceder da seguinte maneira:
Observação visual
Este “eclipse” (evento mais corretamente denominado “ocultação”) pode ser observado visualmente, com ou sem telescópio/binóculos, em grande parte do Algarve e sul do Alentejo. No entanto, quanto mais longe da linha central do percurso da sombra, menor a duração, e também menos a estrela Betelgeuse parecerá “apagar-se” por completo.
Isto acontece porque os tamanhos aparentes da estrela e do asteroide são parecidos. É como observar um eclipse parcial em vez de um eclipse total da estrela. Assim, a localização preferida para observar desta maneira é “longe da costa sul algarvia” e a “sul de Aljustrel”.
Para contribuir cientificamente com uma observação, é necessário estimar com precisão o instante de tempo inicial e final da ocultação. Um relógio com botões físicos onde carregar poderá ser a melhor maneira de registar o tempo.
Registo de vídeo
É possível registar o acontecimento em vídeo. Para que o registo seja mais relevante devemos ter uma muito boa referência temporal de cada “frame” do vídeo.
Existem várias formas de o fazer: a mais simples pode ser o mesmo vídeo registar uma luz que acenda e apague em altura bem definida, antes e depois do evento.
Exemplo: com o auxílio de uma aplicação para telemóvel, é possível fazer o flash piscar numa hora “bem definida” pela hora da Internet (NTP). No vídeo, deverá ser bem notória a estrela, embora sem a saturar (sem que fique demasiado brilhante); por outro lado quer-se, idealmente, que a cadência de imagens (em inglês, “framerate”) seja elevada.
Observar como o astrónomo
Os astrónomos registam estes fenómenos com telescópios e equipamentos especializados, que inserem a informação temporal de cada imagem no vídeo, com base em serviços horários de precisão (GPS, sinal horário via rádio – DCF77). Isto permite saber com a precisão de alguns milésimos de segundo quando cada fotograma foi registado e cada medição efetuada.
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