Entre as estrelas da Via Láctea, grandes quantidades de pequenos grãos de poeira flutuam sem rumo. Apesar de formarem os blocos de construção de novas estrelas e planetas, ainda não se sabe quais os elementos que estão disponíveis para formar planetas como a Terra.
Uma equipa de investigação do SRON (Netherlands Institute for Space Research), liderada por Elisa Costantini, combinou agora observações de telescópios de raios-X com dados de sincotrão para criar um mapa de grãos interestelares na Via Láctea.
Se a nossa Galáxia encolhesse a ponto de as estrelas terem o tamanho de berlindes, ainda haveria cerca de mil quilómetros a separá-las. Portanto, é seguro dizer que as galáxias consistem principalmente de espaço vazio.
Ainda assim, este espaço não está tão vazio quanto podemos imaginar. Está preenchido pelo chamado meio interestelar.
Na maior parte, este é composto por gás ténue, mas cerca de 1% está na forma de pequenos grãos de poeira com cerca de 0,1 micrómetros, um milésimo da largura de um cabelo humano.
Estes grãos são formados durante o ciclo de vida das estrelas. Uma estrela, e os planetas em seu redor, são formados por uma nuvem de gás e poeira. Uma estrela evoluída, no final da sua vida, expele uma boa fração da sua massa para o meio circundante, criando novo material para a formação de poeira.
Se a estrela terminar a sua vida com uma explosão de supernova, enriquecerá ainda mais o ambiente com mais gás e poeira. Isto, por sua vez, acabará por constituir novos blocos de construção para estrelas e planetas.
Como Carl Sagan disse, “nós somos feitos de poeira estelar”. Mas ainda não sabemos exatamente quais os elementos que estão disponíveis, no meio interestelar, para formar planetas como a Terra.
O grupo de investigação de poeira interestelar do SRON, liderado por Elisa Costantini, estudou agora os grãos interestelares na nossa Via Láctea usando raios-X. Os cientistas conseguiram, pela primeira vez, explorar as propriedades da poeira nas regiões centrais da Via Láctea e descobriram que esses grãos são feitos consistentemente de um silicato vítreo: olivina, que é composto por magnésio, ferro, silício e oxigénio.
A interação com a radiação estelar e com os raios cósmicos derreteu estes grãos para formar esferas irregulares vítreas. Ao examinar regiões mais difusas longe do Centro Galáctico, a equipa encontrou pistas para a presença de uma variedade maior na composição da poeira. Isto pode dar origem a sistemas planetários diversificados e pode até ser que o nosso sistema planetário seja a exceção, não a norma.
“O nosso Sistema Solar foi formado nas regiões externas da Galáxia e é o resultado de uma sequência complexa de eventos, incluindo explosões de supernova próximas. Ainda é uma questão em aberto qual o ambiente certo para formar sistemas planetários e quais destes eventos são vitais para formar um planeta onde a vida possa florescer”, disse Costantini.
Para chegar aos seus resultados, Costantini e o seu grupo combinaram observações de telescópios de raios-X e instalações de sincotrão. Usaram estes últimos para caracterizar análogos da poeira interestelar como silicatos, óxidos e sulfatos em raios-X.
De seguida, compararam estes dados com os dados astronómicos para encontrar as melhores correspondências. A observação de várias linhas de visão permitiu-lhes explorar diferentes ambientes da Via Láctea.
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