As formigas “vomitam” na boca umas das outras (e fazem-no por uma boa razão)

Um novo estudo mostra que as formigas usam fluidos passados de boca em boca para criar um metabolismo em toda a colónia.

A trofalaxia – o processo de alimentação em que um animal transfere para outro o alimento que se encontra no seu tubo digestivo por regurgitação – é muito comum em espécies altamente sociais como as formigas.

“Há cerca de cinco anos, publicámos um artigo que caracterizava o facto de que, quando as formigas fazem trofalaxia, não estão só a passar alimento“, disse ao site Live Science Adria LeBoeuf, professora assistente do departamento de Biologia da Universidade de Friburgo, na Suíça.

“Estão também a distribuir hormonas, pistas de reconhecimento de companheiros de ninho, pequenos ARNs e todo o tipo de outras coisas”, acrescentou a investigadora, uma das autoras do novo estudo.

Ou seja, ao fazer isto, as formigas não estão só a trocar nutrientes entre si, mas também a criar uma espécie de rede social digestiva, na qual energia e informação circulam constantemente por toda a colónia para serem recolhidas pelos espécimes que precisam desses recursos.

“Para nos ajudar a entender por que razão as formigas compartilham esses fluidos, explorámos se as proteínas que trocam estão ligadas ao papel de um indivíduo na colónia ou ao ciclo de vida da colónia”, disse, em comunicado, Sanja Hakala, estudante da mesma universidade e autora principal do estudo publicado, em novembro, na revista eLife.

Para isso, a equipa de cientistas analisou o conteúdo do “estômago social” de formigas, da espécie Camponotus floridanus, tanto em colónias selvagens como em colónias criadas em laboratório.

Nas suas amostras, os investigadores identificaram 519 proteínas a ser passadas pelas colónias, sendo que 27 dessas proteínas foram encontradas em todas as suas amostras, independentemente da idade e da localização da colónia ou do status individual das formigas.

Segundo LeBoeuf, as formigas operárias parecem andar em busca de comida, transformando esse alimento em proteínas específicas e, de seguida, passam essas proteínas ao seu redor.

À medida que uma colónia amadurece, mais proteínas de armazenamento de nutrientes – que atuam como uma fonte de alimento muito concentrada – entram em circulação, fazendo com que as colónias mais velhas tenham mais dessas proteínas do que as mais jovens, descobriu a equipa.

“Muitas vezes, as formigas adultas nem precisam de comer. Em vez disso, quebram lentamente essas proteínas armazenadoras de nutrientes”, explicou ao mesmo site.

As formigas que cuidavam das crias na colónia também tinham mais proteínas anti-envelhecimento nos seus estômagos, o que sugere que os membros da colónia podem reunir essas proteínas que prolongam a vida nessas “cuidadoras” para ajudar a garantir que sobrevivem para cuidar da próxima geração.

“Estas descobertas mostram que alguns membros da colónia podem fazer um trabalho metabólico para o benefício de outros”, complementou Hakala.

ZAP //

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