Só há um animal que ainda resiste à praga dos microplásticos

Um estudo recente expôs os tardígrados a um ambiente poluído com microplásticos e concluiu que as criaturas não as consomem. Os cientistas ainda não sabem porquê.

Os micro e os nanoplásticos estão a tornar-se um elemento quase onipresente da vida na Terra. São encontrados em diferentes tecidos do organismo humano e já foram associados a doenças em aves, a plasticose.

Apesar da dispersão, existe uma pequena criatura que aparentemente não ingere o derivado do petróleo: o tardígrado (ou o urso-d’água). Esta pode ser mais uma de suas fascinantes habilidades, como aponta um estudo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Ainda não se sabe o porquê dos tardígrados serem os únicos habitantes da meiofauna marinha a não engolir os microplásticos. Outros invertebrados, com tamanhos entre 45 micrometros e 1 milímetro, que vivem em sedimentos de ecossistemas aquáticos são mais suscetíveis.

No estudo, os pequenos animais foram recolhidos na Praia do Cupe, localizada na cidade pernambucana de Ipojuca, em 2022. Em seguida, foram levados para o laboratório, onde viveram em ambientes com diferentes níveis de microplásticos por pouco mais de uma semana. Assim, foi possível identificar quais invertebrados acabam por consumir os derivados do petróleo, como o poliestireno (PS).

Tardígrados fogem dos microplásticos

Publicado na revista PeerJ Life and Environment, o estudo brasileiro descobriu que as espécies de tardígrados encontradas em Pernambuco têm a rara habilidade de não consumir microplásticos, algo que não foi observado nos outros organismos do mesmo ecossistema.

Entre os grupos de animais analisados, estavam: nematódeos (“vermes”), ácaros marinhos, náuplios (crustáceos aquáticos no estágio larval), turbelários, copépodes (tipos de crustáceos) e gastrotríquios, além dos tardígrados.

A principal hipótese para explicar a estranha habilidade é a forma como os ursos-d’água se alimentam. Eles não engolem as presas inteiras, preferindo sugá-las, o que pode impedir a absorção dos microplásticos.

No entanto, “54% dos tardígrados neste estudo tinham partículas aderidas [externamente] aos seus corpos”, afirmam os autores. As oito pernas deles aparentemente podem atrair essas partículas, com efeitos desconhecidos no campo da mobilidade.

Superpoderes dos tardígrados

Sem considerar a capacidade de fugir dos microplásticos, os tardígrados já são conhecidos por outros “superpoderes”. Na maioria das vezes, eles se tornam quase “imortais” ao desidratar ao extremo e entrar num estado criptobiótico. Assim, resistem a temperaturas extremas (muito quentes ou muito frias) e até a níveis de radiação muito maiores que os humanos podem suportar. Eles também “congelam” o envelhecimento natural.

Numa experiência de laboratório, os investigadores já descobriram até que os tardígrados podem conferir temporariamente “superpoderes” a células humanas, como a desaceleração do metabolismo. Tudo isso só destaca o quanto a ciência pode aprender com essas criaturas, ainda mais num mundo cada vez mais habitado por plásticos.

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