Afinal, a famosa Vénus de Willendorf pode não ter sido esculpida na Áustria

Inrap

Uma análise com recurso a métodos não invasivos permitiu perceber qual a constituição do material usado pelo escultor no século XX.

A estátua antiga esculpida com a forma de uma mulher completa, conhecida como a Vénus de Willendorf pode, afinal, ter sido esculpida num lugar distinto daquele onde foi encontrada no início do século XX, em Willendordf, na Áustria. Os investigadores observaram a figura da Idade do Gelo pela primeira vez desde a sua descoberta e encontraram pistas que ajudaram a determinar as origens da pedra até ao norte de Itália, a centenas de quilómetros de distância.

A estátua, com 11 centímetros de altura, data de há cerca de 30 mil anos, durante o paleolítico (2,6 milhões a 10 mil anos atrás). Para a equipa de investigadores, a figura terá sido esculpida com ferramentas de pedra. Apesar de pequena, a estátua da Vénus está repleta de detalhes, representado um “uma mulher adulta simbolizada, sem cara e com exagerada genitália, abdominais pronunciados, barriga protuberante, seios pesados e um penteado sofisticado” pode ler-se no estudo.

A equipa de arqueólogos que descobriu a estátua deram-lhe o nome de uma divindade do amor, uma vez que, na altura, presumiram que as antigas estátuas femininas com características sexuais proeminentes eram certamente deusas de fertilidade. A matéria-prima da estatueta e não o seu detalhe representativo foi o que mais cativou os investigadores.

O material esculpido consistia em calcário oolítico, um tipo de rocha sedimentar composto por grãos esféricos cimentados juntos. No entanto, um tópico que integra os investigadores são os registos históricos que indicam que não existiam depósitos de calcário olítico pelo menos numa área de 200 quilómetros à volta de Willendorf, de acordo com o estudo agora publicado.

Enquanto um dos exemplos mais antigos da escultura figurativa, a figura de Vénus é considerada demasiada rara e valiosa para arriscar uma investigação que pressuponha o uso de métodos invasivos. Como tal, através de tomografias de raios X micro computorizadas os cientistas tiveram uma oportunidade de examinar os sedimentos e partículas dentro da estátua.

Focaram-se nos aglomerados de esferas oóides no calcário, comparando-as com aglomerados de depósitos de calcário oolíticos semelhantes e que foram encontrados em vários locais da Europa: desde França à Ucrânia e até na Sicília. Ainda segundo o estudo, amostras de calcário de Saga de Ala, um local no vale do Lago Garda no norte de Itália, eram “virtualmente indistinguíveis” do calcário Vénus, sugerindo “uma probabilidade muito elevada de a matéria-prima vir do sul dos Alpes”, escreveram os cientistas no estudo.

Os seus scans também mostraram que o interior rochoso de Vénus continha fragmentos de minúsculos fósseis, que os cientistas identificaram como pertencendo ao género Oxytomidae. Esta previsão a idade da pedra entre 251 milhões e 66 milhões de anos, quando o género agora extinto estava vivo. A pedra calcária oolite do norte de Itália continha igualmente fragmentos bivalves, relataram os investigadores.

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