Pais tiram filho da escola: os amigos iam afastá-lo da família. A “crise de abuso” no ensino individual

Jovem de 17 anos expôs a sua situação complexa. Não tem autorização para falar com antigos colegas de escola mas… tem um amigo.

Parece relato inserido num filme dramático, mas é realidade.

É um retrato de uma “crise dolorosa de abuso no ensino individual” nos EUA, como foi apresentado no X.

Um jovem de 17 anos está sob um regime de ensino individual. Ou seja, a escola é em casa. E aprende sozinho, não está inserido em qualquer turma.

Até aqui nada a apontar. Acontece, quer nos EUA, quer em Portugal. É uma mini percentagem de casos, mas acontece; sobretudo nos EUA, onde ir para a escola já foi para muitos sinónimo de cenas de violência, ou mesmo morte.

Mas há casos em que o ensino individual esconde um cenário de abuso, de tristeza, de asfixia.

O jovem em causa, cujo nome não foi revelado, publicou no Reddit o que lhe está a acontecer.

“Nem acredito que estou a escrever isto”, lê-se na primeira linha do texto.

E muitos leitores nem acreditam no que está logo a seguir, na segunda linha: “Não tenho amigos e é muito difícil manter amigos por causa dos meus pais”.

Os pais do adolescente não o deixam ter amigos porque acreditam que ter amigos é afastar o filho da família.

“É muito difícil de explicar”… Pois.

O jovem conta que não tem amigos há muito tempo e – qual surpresa – começou a sentir-se muito sozinho. Pais muito ocupados, cada um no seu emprego, ele nunca vai à escola… “Nada disto melhora a minha situação”. Só saem os três ao fim-de-semana, “o que é bom”.

O adolescente até tinha um telemóvel. Sem supervisão, sem controlo apertado, mas… Uma regra central: não podia falar com ninguém da escola onde ele era aluno. Só tinha autorização para enviar SMS a um grupo restrito de pessoas.

“Os meus pais deixam sempre a ideia de que não tenho autorização para ter amigos; estão sempre a dizer que ter amigos iria meter-me em problemas e que eu não preciso de ter problemas”.

No entanto, entre tanta solidão, começou mesmo a trocar mensagens com ex-colegas de escola e com outros amigos.

Os pais descobriram.

Ficaram “magoados durante meses”. Tiraram o telemóvel ao filho e deram-lhe um Troomi como substituto. Um Troomi é um telemóvel aconselhado para crianças: não há redes sociais, jogos, e só dá para falar/escrever com os contactos que os pais adicionam.

Antes disso, o adolescente tornou-se voluntário em dois museus. Aí sim, tem contacto com pessoas da sua idade.

Aí, o crime: fez um amigo.

Bem que tentou manter-se isolado no voluntariado, porque sabe que não pode ter amigos, mas começou a dar-se tão bem com uma pessoa que agora o considera como “o único amigo” que tem.

Até já foram comprar discos e comer hamburgueres juntos. E conseguiu (através de uma manobra no site do Troomi) começar a trocar SMS com ele. Outros dois grandes crimes.

E assim surge o grande dilema do jovem: como contar ao pai?

“Eu sei que esta é uma situação estranha e provavelmente até idiota, mas não tenho ideia de como contar ao meu pai que estou a trocar mensagens com alguém. Eu realmente quero ser franco e honesto para não ser ofendido depois, mas eu não quero ter problemas”, finaliza o texto.

Nos comentários reinam duas ideias: ele não é idiota e o melhor é nem contar aos pais.

O portal YourTango reforça que as publicações anteriores do mesmo jovem mostram que o pai destruiu bens do filho e o ameaçou, numa “situação óbvia e angustiante de abuso”.

O isolamento deliberado é um dos principais mecanismos de abuso psicológico e emocional, e o ensino doméstico é frequentemente utilizado para este fim, continua o mesmo site.

ZAP //

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