A monogamia está no ADN dos europeus há 7.000 anos

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Stéphane Rottier / Department of Archaeology, Ghent University

Análise de DNA identificou sete gerações de humanos do Neolítico sítio arqueológico de Gurgy les Noisats

Um estudo inovador recentemente publicado oferece uma perspetiva fascinante sobre a estrutura social e as práticas de acasalamento das comunidades Neolíticas na Europa Ocidental.

Ao analisar ADN humano, recolhido no sítio arqueológico de Gurgy les Noisats, em França, que remonta a 7.000 anos atrás, uma equipa de investigadores descobriu detalhes valiosos sobre a organização destas sociedades ancestrais.

O período Neolítico, que se estende desde há 10.000 a 4.500 anos, marcou uma transição da cultura de caça e recoleção para a agricultura e pecuária. Este período é caracterizado pela domesticação de animais, desenvolvimento da agricultura e uso de ferramentas de pedra polida.

Historicamente, entender as estruturas sociais da comunidade Neolítica mostrou-se desafiador, devido aos dados limitados sobre parentescos biológicos e práticas de acasalamento.

Os métodos tradicionais baseavam-se principalmente em descobertas arqueológicas, tornando difícil determinar laços genéticos. No entanto, com os recentes avanços nas técnicas de análise de ADN antigo, os investigadores podem agora reconstruir relações genéticas complexas.

No decorrer do estudo, a arqueóloga Maïté Rivollat, investigadora da Universidade de Gent, na Bélgica, e a sua equipa combinaram dados genómicos com evidências arqueológicas para estudar os restos de cerca de 100 indivíduos de Gurgy, datados aproximadamente de 4850 a 4500 a.C.

As descobertas, que foram apresentadas num artigo publicado recentemente na Nature, indicam que estas comunidades eram monogâmicas e a sua linhagem era estruturada pelos membros do sexo masculino.

Notavelmente, não foram encontrados meio-irmãos — todas as crianças tinham o mesmo pai e a mesma mãe, o que, consideram os autores do estudo, sugere que os membros da comunidade não tinham múltiplos parceiros.

Além disso, um número significativo de irmãos adultos completos indicou condições de saúde estáveis, alta fertilidade e baixas taxas de mortalidade, sugerindo uma forte rede social e de apoio.

Outra descoberta notável foi o curto período de tempo em que o sítio foi ocupado pela comunidade, que apenas ali viveu durante algumas décadas. Geneticamente, os membros da comunidade estão ligados por duas linhagens principais abrangendo sete gerações.

Segundo os autores do estudo, esta descoberta não só aprofunda a nossa compreensão das sociedades Neolíticas europeias, como também estabelece uma base para futuros estudos arqueogenéticos, visando perspetivas mais amplas sobre práticas de parentesco, padrões residenciais e organização social.

Armando Batista, ZAP //

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