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A maioria dos planetas habitáveis pode ter apenas 10% de terra seca

Lucianomendez / Wikimedia

Conceito artístico do exoplaneta Upsilon Andromedae, com as suas enormes luas

Conceito artístico do exoplaneta Upsilon Andromedae, com as suas enormes luas

Além do seu fato de astronauta, talvez seja aconselhável que os exploradores exoplanetários do futuro levem equipamento de mergulho.

Um novo estudo, publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, usou um modelo estatístico bayesiano para prever que a maioria dos planetas habitáveis podem ser dominados por oceanos que abrangem mais de 90% da sua superfície.

O autor do estudo, Fergus Simpson, investigador do Instituto de Ciências do Cosmos da Universidade de Barcelona, construiu um modelo estatístico baseado na análise de probabilidade bayesiana, para prever a divisão entre terra e água em exoplanetas habitáveis.

Para uma superfície planetária possuir extensas áreas, tanto de terra como de água, deverá ter atingido um delicado equilíbrio entre o volume de água que retém ao longo do tempo e o espaço que tem para a armazenar nas suas bacias oceânicas.

Ambas estas quantidades podem variar substancialmente em todo o espectro dos mundos que contêm água, e o porquê de os valores da Terra estarem tão bem equilibrados é um enigma de longa data ainda não resolvido.

O modelo de Simpson prevê que a maioria dos planetas habitáveis são dominados por oceanos que abrangem mais de 90% da sua área de superfície. Esta conclusão foi alcançada porque o próprio planeta Terra está muito próximo de ser considerado um “mundo aquático” – um mundo onde toda a terra está imersa sob um único oceano.

“Um cenário no qual a Terra contém menos água que a maioria dos outros planetas habitáveis seria consistente com os resultados das simulações, e pode ajudar a explicar porque é que alguns planetas são menos densos do que esperávamos,” explica Simpson.

No novo trabalho, Simpson descobriu que os oceanos finamente equilibrados da Terra podem ser uma consequência do princípio antrópico – mais frequentemente usado num contexto cosmológico – que explica como as nossas observações do Universo são influenciadas pela exigência da formação de vida senciente.

“Com base na cobertura oceânica da Terra, 71%, encontrámos evidências substanciais que suportam a hipótese de que os efeitos da seleção antrópica estão em funcionamento,” comenta Simpson.

Para testar o modelo estatístico, Simpson teve em conta mecanismos de feedback, como o ciclo de águas profundas e os processos de erosão e de deposição.

O cientista propõe também uma aproximação estatística para determinar a diminuição da área de terra habitável para planetas com oceanos mais pequenos, à medida que se tornam cada vez mais dominados por desertos.

Porque é que evoluímos neste planeta e não em qualquer outro dos milhares de milhões de mundos habitáveis? Neste estudo, Simpson sugere que a resposta poderá estar ligada a um efeito de selecção que envolve um equilíbrio entre terra e água.

“A nossa compreensão do desenvolvimento da vida poderá estar longe de completa, mas não é terrível ao ponto de aderirmos à aproximação convencional de que todos os planetas habitáveis têm uma probabilidade igual de hospedar vida inteligente,” conclui Simpson.

// CCVAlg

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