Um novo estudo revelou informações sobre a forma misteriosa como as árvores comunicam e partilham conhecimento entre si. Tal como em espécies animais, a “sabedoria da idade” (ou “experiência”) desempenha um papel vital.
A Floribella foi uma das telenovelas de maior sucesso do início deste século, em Portugal. E quem se lembra do fenómeno lembrar-se-á, com certeza, também da árvore a quem a protagonista chamava “mamã”.
A árvore era uma das figuras centrais do enredo: era a ouvinte, confidente e conselheira de Floribella.
Havia quem a olhasse de olha por, estranhamente, falar com aquela árvore… mas, afinal, de contas, Floribella não estava errada de todo… as árvores têm sabedoria.
A conclusão é de um estudo publicado recentemente na Southern Cross University (Austrália), que garante que as árvores transmitem mesmo conhecimento.
Mas apenas entre si
A equipa da Southern Cross University (SCU) da Austrália e do Instituto Italiano de Tecnologia (IIT) registou, pela primeira vez, as formas específicas como as bétulas da floresta Costa Bocche, nas Dolomitas, usam sinais bioelétricos para se prepararem para eclipses solares.
A investigação apurou que as árvores mais velhas enviam essas mensagens primeiro, sugerindo um conhecimento adquirido sobre eventos ambientais.
“Este estudo ilustra que as respostas antecipadas e sincronizadas que observámos são fundamentais para compreender como as florestas comunicam e se adaptam, revelando uma nova camada de complexidade no comportamento das plantas”, afirmou a professora Monica Gagliano, da SCU, à New Atlas.
A comunicação das plantas, e especialmente das árvores, tem sido um campo de estudo difícil de compreender, devido ao pouco que é percetível pelos métodos tradicionais de observação.
No entanto, todos os organismos vivos têm um sistema eletromagnético – as vias de comunicação elétrica semelhantes ao que o genoma é para o ADN e a expressão genética.
Comunicação proativa
E como todos os organismos são movidos pela sobrevivência – desde vírus até predadores de topo –, esse sistema eletromagnético parece ser a forma como essa rede florestal de bétulas (Picea abies) informa as suas vizinhas para se prepararem para uma perturbação ambiental.
Além disso, esse sinal não é reativo, mas proativo, com atividade de sinalização ocorrendo horas antes de um eclipse.
O novo estudo descobriu que a atividade desses impulsos bioelétricos não só mudava várias horas antes do eclipse solar, mas que todas as árvores começavam a sincronizar-se à medida que a “notícia” se espalhava.
E, aqui, outra vez, a mensagem era enviada primeiro pelas árvores mais velhas às quais os sensores estavam ligados.
“Agora vemos a floresta não como uma mera coleção de indivíduos, mas como uma orquestra de plantas em fase correlacionada”, disse Alessandro Chiolerio, do IIT, à New Atlas.
Isso demonstra uma comunicação coletiva e coordenada entre as árvores – algo que tradicionalmente era considerado um comportamento exclusivo do reino animal.
“Sabedoria da idade” é real
Segundo os cientistas, esta investigação tem implicações bastante amplas para a melhor compreensão de como os ecossistemas se adaptam às mudanças climáticas e do papel vital que os indivíduos mais velhos desempenham na natureza.
“O facto de as árvores mais velhas responderem primeiro – potencialmente orientando a resposta coletiva da floresta – diz muito sobre o seu papel como bancos de memória de eventos ambientais passados”, disse Gagliano.
“Esta descoberta ressalta a importância crítica de proteger as florestas mais antigas, que servem como pilares da resiliência do ecossistema, preservando e transmitindo conhecimentos ecológicos inestimáveis”, acrescentou.