Cientistas temem que milhares de toneladas de produtos químicos despejados numa mina na Alsácia possam infiltrar-se no maior aquífero da Europa ocidental, localizado a escassos metros — com consequências devastadoras para a vida selvagem e milhões de pessoas na Europa ocidental.
Os resíduos tóxicos depositados numa mina na Alsácia, França, poderão infiltrar-se no aquífero do Reno Superior, que corre entre França, Suíça e Alemanha, contaminando potencialmente a água potável de milhões de pessoas, revela o The Guardian.
A mina de Stocamine, antiga exploração de potassa situada em Wittelsheim, armazena desde os anos 1990, num espaço com o tamanho de 7 campos de futebol, cerca de 42.000 toneladas de resíduos tóxicos — a escassos metros do maior aquífero da Europa ocidental.
A mina, agora encerrada, foi usada como depósito subterrâneo de resíduos perigosos como mercúrio, arsénio e cianeto, e contém substâncias que têm sido associadas a mortes em massa na vida selvagem, que poderão ter efeitos graves e duradouros nos ecossistemas.
Embora inicialmente tivessem sido dadas garantias de que os resíduos seriam retirados num prazo de 30 anos, uma decisão judicial recente vetou a sua extração, dada a deterioração da estrutura e os riscos operacionais envolvidos.
Em vez disso, determinou a resolução da justiça francesa, a mina deveria deverá ser selada permanentemente com toneladas de betão — solução apoiada pelas autoridades francesas.
No entanto, numerosos cientistas sustentam que esta medida é insuficiente, uma vez que o subsolo do local apresenta instabilidade, havendo já registos de infiltrações de de água — que poderão alcançar os depósitos de substâncias contaminantes.
O aquífero da Alsácia, situado apenas a cinco metros da superfície e ligado ao sistema hídrico do Reno Superior, poderá ver-se gravemente afetado se os resíduos se libertarem, com um impacto no abastecimento de água de milhões de pessoas em França, Alemanha e Suíça.
Para além dos riscos para a saúde humana, especialistas citados pelo The Guardian temem uma grave alteração nos ecossistemas. O despejo de compostos como o cianeto em ambientes aquáticos pode provocar a morte massiva de peixes e danos permanentes na fauna e flora fluvial.
“É melhor agir agora e não deixar este problema às futuras gerações. A técnica de enterrar resíduos sem tratamento está desatualizada e fracassou em numerosos casos ao longo da história”, salienta Marcos Buser, geólogo especializado em resíduos tóxicos.
Jean-Pierre Hecht, antigo mineiro do local, rejeita também a decisão governamental. “Nós, os antigos mineiros, sentimo-nos traídos“, diz, recordando que o projeto foi apresentado como uma iniciativa sustentável e geradora de emprego, algo que acabou por nunca se materializar.
Yann Flory, professor de educação física reformado, manifesta-se desde os anos 1980 contra a presença destes resíduos no local. “Comecei a fazê-lo pelos meus filhos, agora faço-o para defender os meus netos. Estamos convencidos de que um dia a água que bebemos estará contaminada de forma irreversível“.