A gémea envelhecida do Sol é um “dínamo renascido”

NASA/SDO

Anéis coronais no Sol capturados em luz ultravioleta usando o canal de 171 ångström do instrumento Atmospheric Imaging Assembly (AIA) do Observatório de Dinâmica Solar da NASA.

Uma equipa liderada por investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, obteve novas medições magnéticas de β Hydri, uma estrela análoga ao futuro do Sol, revelando uma atividade surpreendente.

Uma equipa internacional, liderada pela investigadora do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) Ângela Santos, realizou a primeira medição do campo magnético de β Hydri, uma estrela subgigante envelhecida e análoga ao Sol, situada nas proximidades do nosso Sistema Solar.

O estudo, recentemente publicado  na revista Astronomy & Astrophysics, revelou uma travagem magnética inesperadamente intensa, apoiando o cenário de um “dínamo renascido” em estrelas na fase de subgigante.

“Em anos recentes, temos descoberto que a evolução da atividade magnética em estrelas é significativamente mais complexa que pensado anteriormente”, afirma a primeira autora do artigo.

“Ao estudar estrelas semelhantes ao Sol, como β Hydri, particularmente em fases de evolução diferentes, é chave para construir uma imagem completa de como as estrelas e os seus sistemas envelhecem”, acrescenta Ângela Santos.

β Hydri é uma das estrelas mais brilhantes visíveis a olho nu no céu austral e uma das estrelas mais estudadas além do Sol. Com uma massa ligeiramente superior à do nosso Sol e numa fase mais avançada da sua evolução, tem sido utilizada frequentemente como modelo para compreender o futuro do Sol enquanto estrela subgigante.

Apesar da sua idade, β Hydri apresenta sinais de um ciclo de atividade magnética semelhante ao do Sol — um comportamento inesperado para uma estrela nesta fase da sua evolução.

A equipa obteve dados espectropolarimétricos de alta precisão com o instrumento HARPSpol, montado no telescópio de 3,6 metros do Observatório Europeu do Sul (ESO), em La Silla (Chile). Estas observações permitiram, pela primeira vez, medir diretamente o campo magnético à superfície da estrela.

Combinando esta medição com parâmetros estelares obtidos a partir de estudos anteriores, incluindo recentes dados fotométricos obtidos pela missão espacial TESS, da NASA, permitiu aos investigadores calcular a travagem magnética atual de β Hydri, o processo pelo qual uma estrela perde momento angular devido ao seu vento magnético.

Esta descoberta dá força ao cenário emergente de um “dínamo renascido”, em que estrelas subgigantes — após uma fase de menor atividade magnética, típica da meia-idade — podem reativar a sua atividade magnética à medida que o seu envelope exterior se expande.

“Este tipo de comportamento desafia a nossa compreensão convencional da evolução magnética estelar e faz de β Hydri um caso de referência para testar e refinar modelos de travagem magnética e de evolução do dínamo em estrelas solares envelhecidas,” afirma Tiago Campante, líder do Grupo de Investigação em Astrofísica Estelar do IA e professor do DFA-FCUP.

O coautor Ricardo Gafeira (IA & Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra – FCTUC) acrescenta: “Isto também tem implicações para os ambientes planetários, porque β Hydri parece ter reacendido o seu motor magnético, o que poderá aumentar os riscos associados ao clima espacial para quaisquer planetas em sua órbita.”

Como gémea envelhecida do Sol, β Hydri oferece-nos uma visão do futuro magnético da nossa própria estrela — e, talvez, um aviso para os planetas que orbitam estes sóis “reformados”.

Este estudo sublinha o papel de liderança científica do IA na investigação da ligação Sol-estrela, um campo multidisciplinar que combina a evolução estelar, a asterossismologia e a modelação de campos magnéticos.

// I.Astro

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