Têm entre 900 e 350 a.C. e pouco se sabe sobre elas. Quem são? E quem as ofereceu?
Em Creta, numa encosta de montanha, uma misteriosa coleção de estatuetas femininas partidas foi encontrada, escondida em fendas rochosas no antigo povoado de Anavlochos, com vista para a zona rural de Creta e o Mar Mediterrâneo.
Datadas entre 900 e 350 a.C., as estatuetas e placas de argila estavam todas partidas quando foram descobertas e todas retratam figuras femininas, mas não se sabe ainda quem lá às pôs e porque é que o fez.
O local tinha sido habitado muito antes, entre 1200 e 650 a.C.. Porque terão sido feitas oferendas ali séculos depois de ter sido abandonado é o que os investigadores liderados por Florence Gaignerot-Driessen, da Universidade de Cincinnati, estão agora a tentar descobrir.
Apelidadas pela equipa de “Senhoras de Anavlochos”, as oferendas de terracota são simples: o seu valor não é material, mas sim cultural.
Para descobrir se as estatuetas foram partidas intencionalmente ou simplesmente danificadas com o tempo, a equipa está a utilizar métodos de digitalização e impressão 3D. Foram criados modelos digitais e réplicas em resina para comparar com os originais que deverão determinar se foram utilizados moldes na produção — o que sugeriria fabrico em massa — ou se cada peça foi feita à mão.
Entre os achados estão também placas com esfinges — criaturas míticas com cabeça de mulher e corpo de leão alado — e figuras femininas em trajes elaborados, algumas com vestimentas como o chapéu polos ou o manto epiblema., o que aponta para uma influência do Oriente Próximo na cultura grega primitiva, provavelmente devido ao comércio e à migração durante o século VII a.C, segundo o La Brújula Verde.
Um dos problemas é não haver textos que descrevam os rituais realizados em Anavlochos, mas Gaignerot-Driessen aposta na possibilidade de as estatuetas fazerem parte de rituais de iniciação ou transição para mulheres jovens, ligados a marcos como a puberdade ou a maternidade.
A equipa regressa a Creta no final de 2025, para continuar a escavação e fazer experiências práticas com argila do local.