Li C. et al / Applied and Environmental Microbiology

O nome da nova espécie, Ca. Electrothrix yaqonensis, tem origem no nome da tribo Yaqonado Oregon
Uma nova espécie de bactéria, até agora desconhecida, atua como cablagem elétrica, potencialmente abrindo caminho a uma nova era de dispositivos bioeletrónicos para utilização na medicina, indústria, segurança alimentar e monitorização e limpeza ambiental.
Investigadores da Universidade Estadual do Oregon (OSU) descobriram numa planície de lama na costa do Oregon uma nova espécie de bactéria capaz de conduzir eletricidade, como se fosse um cabo vivo.
A nova espécie, cuja descoberta foi apresentada num artigo recentemente publicado na revista Applied and Environmental Microbiology, foi batizada Ca. Electrothrix yaqonensis, em homenagem aos nativos americanos da região onde foi encontrada.
A bactéria foi encontrada em amostras de sedimentos da zona intermareal do estuário da Baía de Yaquina, e identificada como nova espécie por Cheng Li, na altura investigador de pós-doutoramento na OSU, e Clare Reimers, professora da Faculdade de Ciências da Terra, Oceano e Atmosfera da mesma universidade .
Estas “bactérias cabo elétrico” consistem em células em forma de bastonete ligadas de ponta a ponta com uma membrana externa partilhada, formando filamentos que podem atingir vários centímetros de comprimento.
A sua condutividade elétrica, invulgar entre as bactérias, é uma adaptação que otimiza os seus processos metabólicos nos ambientes sedimentares em que vivem.
A nova espécie apresenta vias metabólicas e genes que são uma mistura do género Ca. Electrothrix e de um outro género conhecido de “bactérias de cabo”, o Ca. Electronema. “Esta espécie parece ser uma ponte, um ramo inicial dentro do clado Ca. Electrothrix“, explica Li em comunicado da universidade.
“Destaca-se de todas as outras espécies de bactérias de cabo descritas em termos do seu potencial metabólico, e tem características estruturais distintivas, incluindo cristas superficiais pronunciadas, até três vezes mais largas do que as observadas noutras espécies, que alojam fibras altamente condutoras feitas de moléculas únicas à base de níquel”, acrescenta o investigador.
Estas fibras permitem que as bactérias transportem eletrões a longa distância, ligando recetores de eletrões como oxigénio ou nitratos na superfície do sedimento com dadores como sulfuretos em camadas mais profundas do sedimento, explica LI.
A capacidade das bactérias de participar em reações de redução-oxidação ao longo de distâncias significativas confere-lhes um papel fundamental na geoquímica dos sedimentos e no ciclo de nutrientes, realça a nota de imprensa da OSU.
“Estas bactérias podem transferir eletrões para limpar poluentes, pelo que poderiam ser usadas para remover substâncias nocivas dos sedimentos“, explica Li. “Além disso, o seu design de proteína de níquel altamente condutora pode possivelmente inspirar nova bioeletrónica“.
As “bactérias de cabo” podem viver sob diversas condições climáticas e são encontradas em vários ambientes, incluindo sedimentos de água doce e salgada.
A designação Ca. Electrothrix yaqonensis tem origem no nome do povo Yaqona, cujas terras ancestrais abrangiam a Baía de Yaquina. Yaqona referia-se à baía e ao rio que constituíam grande parte da sua terra natal, bem como ao próprio povo.
Atualmente, os descendentes dos Yaqona fazem parte das Tribos Confederadas dos Índios Siletz, com quem os investigadores trabalharam para criar um nome para a nova espécie.
“Dar nome a uma bactéria ecologicamente importante em homenagem a uma tribo reconhece o seu vínculo histórico com a terra e reconhece as suas contribuições duradouras para o conhecimento ecológico e sustentabilidade”, explicou Li.