Shai Halevi / Autoridade das Antiguidades de Israel

O objeto redondo com um buraco no meio – mesmo por cima do brasão – pode ser um pãozinho.
As inscrições também desafiam algumas das ideias sobre as peregrinações medievais ao Cenáculo, com a aparente inclusão de mulheres.
Um estudo publicado na revista Liber Annuus relata a decoberta notável de 30 inscrições e nove desenhos escondidos durante séculos sob as paredes rebocadas do Cenáculo, o local em Jerusálem onde Jesus Cristo terá feito a Última Ceia.
Localizado no Monte Sião, o Cenáculo é um salão da era das Cruzadas que se encontra sobre o que muitos acreditam ser o túmulo do Rei David. O Cenáculo é desde há muito venerado como o local onde Jesus partilhou a sua última refeição com os discípulos.
Durante a Idade Média, tornou-se um destino de peregrinação fundamental para os cristãos de toda a Europa e do Próximo Oriente. No entanto, após a tomada do poder pelos otomanos em 1523, a sala foi convertida numa mesquita e as paredes foram rebocadas, escondendo as marcas dos peregrinos durante séculos.
Os investigadores, utilizando imagens digitais, revelaram um vasto leque de desenhos e escrituras nunca antes vistos, datados de finais do século XIV e princípios do século XVI. Estes incluem representações de uma taça de vinho, um prato de comida e o que parece ser um pãozinho de Jerusalém, possivelmente aludindo à Última Ceia.
Entre os achados mais impressionantes encontra-se o brasão do cavaleiro suábio Albert von Altbach, ainda hoje utilizado pela cidade alemã de Altbach. Outros emblemas heráldicos apontam para peregrinos da Áustria e da República Checa, enquanto uma inscrição que faz referência a uma mulher de Alepo desafia o pressuposto de que as peregrinações medievais eram dominadas pelos homens, ressalva o IFLScience.
A imagem de um barco de estilo veneziano sugere a árdua viagem marítima que muitos peregrinos europeus efetuaram para chegar à Terra Santa. Uma inscrição arménia separada, onde se lê “Natal de 1300”, pode ter sido deixada por um soldado que lutou numa batalha síria sob o comando do rei Het’um II, poucos dias antes.
Uma das imagens mais enigmáticas é a de um escorpião, que se crê refletir as tradições sufis, em que os adeptos entravam em transe e manipulavam criaturas venenosas. Os investigadores especulam que homenageia o xeque Aḥmad al-ʿAǧamī, uma figura-chave na conversão do edifício numa mesquita.
Shai Halevi / Autoridade das Antiguidades de Israel

O grafiti de um escorpião
“Esta descoberta traça um quadro muito mais rico de quem visitou o local – cristãos, muçulmanos, homens, mulheres, locais e estrangeiros e desafia a visão centrada no Ocidente da peregrinação medieval”, disse o autor do estudo Ilya Berkovich.