Cientistas presos na Antártida temem pela vida: colega ameaçou-os de morte

Dr Ross Hofmeyr/Wikimedia Commons

A base Sanae IV, completamente isolada, com temperaturas que atingem os -23ºC

Comportamento do alegado agressor “chegou a um ponto extremamente perturbador”, denuncia cientista da base isolada. Foi aberta uma investigação.

Parece o enredo da série hispano-nipónica The Head, mas está a acontecer no mundo real: a estação isolada Sanae IV, na Antártida, estará a ser palco de um cenário de terror à medida que lê este artigo.

Um dos 10 investigadores presos na base sul-africana pediu recentemente, por e-mail, que todos os cientistas sejam resgatados, na sequência de agressões e ameaças de morte por parte de um membro da equipa.

Na acusação, noticiada inicialmente pelo Sunday Times, o investigador — um de uma equipa de 10 pessoas que só deveria regressar em dezembro, devido às duras condições da Antártida — pede “ação imediata” para garantir a sua segurança e a segurança de todos os funcionários.

“Infelizmente, o comportamento [do colega] chegou a um ponto que é extremamente perturbador. Especificamente, ele agrediu [x]. Além disso, ele ameaçou matar [x] (…). Eu continuo extremamente preocupado com a minha segurança, constantemente pensando se serei eu a próxima vítima (…) É imperativo ação imediata para garantir a segurança de todos”, lê-se na mensagem do investigador, que também acusa o mesmo colega de agressão sexual. O email omitia nomes, por razões de privacidade.

A base, situada a mais de 4 mil quilómetros a sul da Cidade do Cabo, está isolada pelo gelo e por fortes tempestades de inverno, o que torna logisticamente difícil uma evacuação imediata. As bases alternativas mais próximas são a Estação Neumayer III da Alemanha, situada a 220 quilómetros a noroeste, e a Base Troll da Noruega, a 189 quilómetros a sudeste.

O Ministro do Ambiente da África do Sul, Dion George, confirmou a ocorrência de uma agressão e afirmou que estavam a ser estudadas opções para resolver a situação.

“Está a ser feita uma intervenção. A pessoa que agrediu o chefe de equipa está arrependida e foi reavaliada psicologicamente de livre vontade“, disse o ministro. Sobre o que despoletou a alegada agressão, “foi uma disputa sobre uma tarefa que o chefe de equipa queria que a equipa fizesse — uma tarefa dependente das condições meteorológicas que exigia uma mudança de horário.”

O ministério disse ainda à BBC que, antes de irem para a Antártida, no final de dezembro passado, os membros da equipa foram sujeitos a “uma série de avaliações que incluem verificação de antecedentes, verificação de referências, avaliação médica, bem como uma avaliação psicométrica por profissionais qualificados”, aprovada por todos os membros.

“Numerosas preocupações” foram levantadas sobre o alegado atacante entre o momento em que a equipa foi deixada por um navio sul-africano e a partida deste, um mês depois, admitiu ainda o queixoso.

O Departamento de Florestas, Pescas e Ambiente da África do Sul (DFFE) lançou uma investigação sobre o incidente.

Um porta-voz do departamento declarou que “a unidade de bem-estar está em contacto permanente com a equipa da base, a fim de encontrar soluções e caminhos sustentáveis para o bem-estar dos membros da equipa que se encontram nessa base remota”.

A África do Sul mantém presença científica na Antártida desde 1960, onde coordena investigação em áreas como campos eletromagnéticos, geologia antártica e a biodiversidade. O país também opera estações de investigação na Ilha Marion e na Ilha Gough, no Atlântico Sul.

Este não é o primeiro incidente violento a envolver uma equipa antártica sul-africana: em 2017, um investigador da Ilha Marion terá atacado o computador portátil de um colega com um machado após ter sido rejeitado, romanticamente.

ZAP //

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