Uma equipa da Universidade de Barcelona mapeou pela primeira vez as fronteiras da icónica região da Idade do Bronze. Para o fazer, foi “só” seguir a cerâmica.
“Para entender a consolidação dos primeiros estados na pré-história, é essencial analisar como suas fronteiras foram criadas e mantidas”, explica à LBV Roberto Risch, professor do Departamento de Pré-História da Universidade Autónoma de Barcelona e coordenador de um novo estudo que nos dá a conhecer as fronteiras do primeiro Estado da Península Ibérica.
El Argar data de há cerca de 4 mil anos, da Idade do Bronze, e finalmente os investigadores foram capazes, através da análise da produção e circulação de cerâmica na zona fronteiriça situada no norte da província de Múrcia, de perceber melhor quais eram os limites deste Estado.
Porque é isto importante? As fronteiras dão muitas pistas sobre a organização política e social da cidades antigas.
O novo estudo, publicado este domingo na Journal of Archaeological Method and Theory, identificou a existência de zonas ativas de troca e negociação. A relação política pode ser percebida na própria cerâmica que por lá era trocada.
“Estes recipientes não eram apenas objetos do quotidiano, mas refletiam a estrutura das redes económicas e políticas da época”, explica o investigador.
O estudo revelou mesmo a existência de uma rede de distribuição de cerâmica à escala regional, provavelmente controlada pelos povoados centrais de El Argar.
Na parte norte do território estudado, foi identificada uma multiplicidade de pequenas oficinas de olaria que utilizavam argilas locais. “Esta diferença acentuada sugere que os sistemas económicos destas comunidades eram completamente distintos“, explica outro investigador, Moreno Gil.
“A preeminência de El Argar não se limitou ao controlo de recursos estratégicos como os metais, mas estendeu-se também a objetos de uso quotidiano como a cerâmica”, conclui Gil.
As áreas de produção e circulação de cerâmica foram assim, pela primeira vez, mapeadas pela equipa.
Carla Garrido García, investigadora da Universidade Autónoma de Barcelona, diz que este trabalho “demonstra que a análise da cerâmica é uma ferramenta fundamental para compreender as trocas económicas, as relações sociais e a configuração dos espaços fronteiriços na pré-história”.