As mulheres abordavam as vítimas em público e prometiam curar doenças e mau olhado em troca de dinheiro. A principal arguida já foi condenada três vezes por burlas semelhantes.
Uma vidente de 58 anos e a sua sobrinha de 34 anos estão acusadas de burlar 22 vítimas em Santo Tirso, Famalicão, Vila do Conde e Paredes, arrecadando quase 260 mil euros ao longo de vários anos. A mulher prometia curar doenças e remover maldições através de supostos poderes sobrenaturais, com a ajuda da sobrinha nas abordagens às vítimas.
A acusação do Ministério Público (MP) relata que as burlas começaram em 2013, com a vidente a abordar pessoas em locais públicos como cemitérios, lojas, hospitais e até multibancos, inicialmente a pedir esmola. Logo depois, convencia as vítimas de que sofriam de maldições ou doenças graves, utilizando o medo para obter dinheiro e jóias. Numa situação, chegou a “diagnosticar” um cancro a um homem e prever a morte do filho de uma mulher, refere o JN.
Entre as vítimas está uma mulher de Paredes, de 74 anos, que foi persuadida a entregar 3440 euros em dinheiro e 20 mil euros em jóias. Outra mulher, de Santo Tirso, contraiu empréstimos para evitar a morte do marido através de feitiçaria. Em Famalicão, uma vítima entregou 29 mil euros ao longo de dois anos, acreditando que o filho morreria devido a um feitiço.
A maior lesada entregou 157 mil euros à vidente após a morte da irmã, convencida de que os rituais ajudariam a aliviar a sua tristeza. Quando ameaçou denunciar o caso à polícia, a arguida respondeu com intimidações, prometendo enviar familiares para a “resolver o problema”.
A investigação da GNR de Penafiel culminou na detenção de ambas a 23 de julho de 2022. Durante a investigação, descobriu-se que o dinheiro obtido com as burlas foi investido numa vivenda em nome do filho da vidente, de 34 anos, que tem uma anomalia psíquica. O objetivo era ocultar a origem ilícita do dinheiro. O imóvel, avaliado em 156 mil euros, foi arrestado pelo MP para ressarcir as vítimas.
Além das duas principais arguidas, o marido e os filhos da vidente também foram acusados de branqueamento de capitais, já que guardavam e vendiam o ouro das vítimas em lojas de penhor.
Maria Alice S., a principal arguida, já tem um histórico criminal semelhante, com três condenações anteriores por burlas do mesmo género, e enfrenta ainda outros processos pendentes. Atualmente, ela e a sobrinha encontram-se em prisão preventiva na cadeia de Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos.