Proteína única dos tardígrados pode ajudar na luta contra o cancro (e não só)

Se os tardígrados são tão resistentes à radiação, é altura de aproveitar essa vertente para ajudar doentes oncológicos (humanos).

É minúsculo, mas há quem diga que é o animal mais indestrutível: o tardígrado resiste a altas doses de radiação, a temperaturas extremas, à seca total, ao vácuo do espaço…

Se resiste tão bem à radiação, não poderá ajudar na luta contra o cancro? Nomeadamente ajudar doentes oncológicos (humanos) a resistir à radiação de uma radioterapia?

Foi nisso que este estudo se focou: encontrar formas de proteger células saudáveis ​​durante o tratamento contra o cancro – a radioterapia prejudica o ADN em células saudáveis, levando à morte celular e à inflamação em massa, e aos efeitos secundários desagradáveis ​​do tratamento (como feridas na boca, incapacidade para comer, perda de peso ou hemorragias).

Os investigadores isolaram este “superpoder” do tardígrado sob a forma de RNA mensageiro, que, quando injetado nas células, as protege da radiação.

Um tardígrado consegue suportar cerca de mil vezes a dose de radiação ionizante que mataria logo um ser humano, lembra o Science Alert.

É aqui que entra a Dsup, uma proteína única, que só existe nos tardígrados. Dsup é uma abreviatura de “supressor de danos”: consegue reduzir os danos no ADN induzidos por raios X em cerca de 40%.

Mas a Dsup precisa de estar dentro do núcleo da célula para funcionar. Colocar esta proteína diretamente em cada célula não é viável; integrar os genes da Dsup diretamente no ADN é um risco.

“Um dos pontos fortes da nossa abordagem é que estamos a utilizar um RNA mensageiro, que apenas expressa temporariamente a proteína, pelo que é considerado muito mais seguro do que algo como o ADN, que pode ser incorporado no genoma das células”, diz Ameya Kirtane, autora do estudo.

A equipa conseguiu aproveitar o mRNA para células criadas em laboratório, onde geraram grandes quantidades de Dsup antes de se desintegrarem.

“Pensámos que, combinando estes dois sistemas – polímeros e lípidos – poderíamos obter o melhor dos dois mundos e obter um RNA altamente potente. E foi essencialmente isso que vimos”, explica Kirtane.

Esta “receita”, este tipo de administração da Dsup, também impede que a armadura protectora do tardígrado invada as células que a radiação supostamente deveria matar.

A equipa injetou mRNA codificador de Dsup em ratos que, 6 horas depois, receberam uma dose de radiação aproximadamente equivalente à que poderia ser administrada a um doente humano com cancro.

Um grupo de ratos recebeu tratamento com mRNA e radiação na boca; o outro grupo recebeu o mesmo tratamento, mas no reto. E ainda outros ratos receberam radiação sem a proteção da Dsup, para os investigadores tem uma base de comparação.

O grupo do reto teve cerca de metade das quebras de ADN induzidas pela radiação, em comparação com os que não receberam proteção Dsup.

O grupo da boca teve cerca de um terço das quebras. E o tratamento com mRNA pareceu não ter qualquer efeito no volume do tumor.

Foi um passo importante para perceber que se consegue levar o mRNA em segurança para dentro de uma célula – sem ajudar o cancro.

Os autores do estudo acreditam assim que, em breve, a Dsup pode ser útil na resistência humana à radiação, não só nos tratamentos anti-cancro, mas também à radiação espacial e à radioatividade.

ZAP //

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