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Portugal não consegue travar superbactéria multirresistente. Programa que o faz não tem diretor

NIAID

Bactéria Klebsiella pneumoniae

Portugal registou um aumento de 43% no número de novos casos de klebsiella entre 2019 e 2023. Programa “fundamental”, sem liderança há um ano, deixa o país ficar mal perante a Europa, que lançou o alerta.

O Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC) alertou esta quinta-feira para o aumento da incidência da infeção por bactérias multirresistentes como a Klebsiella, com Portugal em sétimo lugar no maior número de novos casos por 100.000 habitantes em 2023.

A informação foi revelada esta quinta-feira pelo Jornal de Notícias, que cita um alerta publicado no site do Centro Europeu para a ECDC que indica que Portugal registou entre 2019 e 2023 um aumento de 43% no número de novos casos por 100.000 habitantes (incidência), que passaram de 2.93 para 4.19, acima da média europeia de 3.97, que subiu 57%.

Portugal está “mal na fotografia”, explica o jornal, que avança que o programa da DGS que será responsável pela gestão desta crise está sem diretor há um ano. José Artur Paiva, o último diretor do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), deixou o cargo em fevereiro de 2024 e ainda não foi substituído.

“É um programa fundamental e precisa de liderança”, diz ao JN o diretor de Medicina Intensiva da ULS São João.

“Vários sinais” de deterioração epidemiológica

Com valores superiores de incidência na infeção de Klebsiella pneumoniaie resistente aos carbepenemes (uma classe de antibióticos) relativamente a Portugal (entre 30 países) estão apenas seis estados: Croácia (4.53); Bulgária (7.75); Itália (9.29); Chipre (9.80); Roménia (20.02) e Grécia (21.44).

Os dados do centro europeu indicam que, entre 2019 e 2023, a incidência baixou apenas em dois países: na Finlândia (- 66,7%) e na Irlanda ( – 63,6%).

O ECDC indica que desde o último ponto de situação, em 2019, tem havido “vários sinais” de que a situação epidemiológica na UE continua a deteriorar-se.

Entre estes riscos o centro europeu elenca o aumento da incidência de infeções da corrente sanguínea por Klebsiella pneumoniae resistente aos carbapenemes em 23 estados-membro devido à “transmissão contínua de estirpes de alto risco” desta bactéria, à “convergência da virulência e resistência” destas bactérias, aparecimento de espécies emergentes da bactéria Enterobactereles portadora de carbapenemes, disseminação causada por surtos em hospitais e aumento da deteção isolada de casos de “linhagens de alto risco” de E.coli portadoras de genes de carbapenemes com risco de disseminação na comunidade.

Com base na deterioração da situação epidemiológica, o ECDC considera que “a probabilidade de uma maior disseminação de bactérias resistentes aos carbapenemes na UE é elevada”.

O ECDC recomenda aos estados – membros o reforço da coordenação nacional das medidas de controlo de infeção entre hospitais e, caso ainda não exista, a criação de uma equipa nacional de gestão multidisciplinar, além do desenvolvimento de planos nacionais de controlo de infeções por restas bactérias multirresistentes.

Aconselha ainda medidas para interromper a transmissão nos hospitais, assim como a definição de guidelines para o tratamento das bactérias resistentes a esta classe de antibióticos (carbapenemes), o reforço da vigilância genómica e a garantia de capacidade laboratorial adequada para a rápida deteção e caracterização destas bactérias multirresistentes.

ZAP // Lusa

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